O Afogado Literal
Respeito aos cultos
Que se dão ao respeito
Mas não é caso
Deste tal de Pedro
Colecionar livros
Era uma obsessão
Fez uma biblioteca
Bem em seu porão
De que vale tanta cultura
Para um imbecil conservador
Que das grandes obras
É um grande admirador
Mas desfaz do humanismo
Que está na arte presente
Só para justificar
Sua vidinha incoerente
A mente corrompida
Escrava da alienação
Torna tendenciosa
Seu poder de interpretação
Assim era Pedro
Tão fã de suas verdades
Filosofia se torna inútil
Sem a preciosa liberdade
Nunca pensou em mudar o mundo
Nunca seria um professor
Porque sendo bancário
O futuro era mais promissor
Alimentando o sistema
Atropelando os endividados
Sabia que com desgraça alheia
Crescia o capital e seu salário
Maior que seu amor à leitura
Era seu amor a coleção
Ficava toda a noite a admirando
Mergulhado em seu porão
Cada dia um novo livro
Que ensopava sua biblioteca
Não permitia acesso a ninguém
Era uma total falta de ética
Todos os dias descia ao porão
Sempre após o jantar
Cuidava de livro por livro
Depois ficava aos admirar
Sua mulher enciumada
Ficava sempre ironizando
Que um dia ele iria
Acabar nos livros se afundando
A mulher de Pedro podia não ser culta
Mas não era cega pela obsessão
Ela sabia dos perigos das rachaduras
Que se formavam lá no porão
Não que Pedro não soubesse
Mais sempre que tinha uma economia
Ambicionava um novo livro
E deixava o reparo para outro dia
Livros e mais livros
Ameaçavam a estrutura
Talvez se se livrasse da bíblia
Não crescesse tanto a rachadura
À noite ao ouvir um estalo
Decidiu no outro dia chamar o peão
Mas bem no meio do caminho
Havia livros em promoção
Gastou toda a economia com os livros
E desceu com eles após o jantar
Sua mulher como sempre ironizando
Disse que ele iria nos livros se afundar
Parecia até uma visionaria
E num estalo aterrador
O porão com a biblioteca
Em cima de Pedro desabou.