PRÓDIGOLOUCURA
Eu não canto porque sou mal cantador
Não declamo, pois não faço poesia
Já não rezo, esqueci a Ave Maria
E as palavras que ensinou Nosso Senhor
Não me julgues um homem sem valor
Tu não sabes o que tem minhas entranhas
Se parecem minhas falas tão estranhas
É pra quem leva a vida tão mesquinha
Quero ver ter a vida como a minha
Minha vida é um poço de façanhas.
Naveguei frente a um disco voador
Troteando feito um bom cabra da peste
No além rimei com extraterrestre
Fiz toada e seresta a meu amor
Estalando meu chicote cantador
Sob a lua clareando a noite escura
Pude ouvir o grunhir da ferradura
E antes mesmo que fosse abduzido
Voltarei pro lugar que fui parido
Pois não quero que me tome essa loucura.
Disse um sábio poeta e trovador
Em seus versos de pureza e sapiência
Não existe pra explicar a ciência
Este mundo é de caboclo sonhador
(A poeira não tem o cheiro de flor)
Meu cavalo, num galope fez poeira
Minha mãe bote a água na chaleira
To chegando pra ficar no meu sertão
Sinto o cheiro da terra do meu torrão
Por favor, me espera lá na porteira.
Viajei num caminho de espinhos
Companheiro só o som nos meus ouvidos
Algazarra, revoada, alaridos
Que faziam um milhão de passarinhos
Triste? Não! Eu nunca fiquei sozinho
Batalhei pra deixar minha trincheira
Hoje vejo no galho da laranjeira
A abelha já perdeu o seu ferrão
Quero colo, quero nos meus pés o chão
Por favor, me espera lá na porteira.