A nova profissão de Alice Gomes
Reza a lenda que houve uma serpente
– poderosa Píton, ser invulgar –
um orago que unia corpo e mente
para as sagas do mundo adivinhar.
Veio Apolo, e, com sua luz potente,
conseguiu corpo e mente separar
– mas alma da cobra, 'inda vivente,
precisava outra vida incorporar.
E assim, há milênios (é a lenda),
uma anônima moça que previsse
o futuro e, da vida, clara senda,
não seria acusada de sandice
(mas o gás que saía de uma fenda
a fazia agir com esquisitice...):
Pitonisa seria. Bem se entenda:
era quase uma deusa, feito Circe.
Bruxaria ou arte... Ou (quem sabe?)
só extrema eficácia no ofício...
De enganar muito bem há quem se gabe,
na política, e, até, no meretrício
(viajar sem despesas pela FAB
para uns não é mesmo um sacrifício!).
Um cordel: eis a parte que me cabe
pra contar essa estória – e pelo início.
Há pessoas que amam seu trabalho,
outras mais aí buscam excelência:
para não incorrer em ato falho
bem reúnem visão à competência
– e não mentem nem ‘pra quebrar o galho’!
Em verdade, verdade é quintessência
de qualquer relação sem embaralho
e de quem vive à luz da consciência.
E não é tão difícil compreender:
se o trabalho requer comprovação
é preciso a fonte esclarecer.
Se a matéria é mera opinião,
só arrisca ter que se defender
de processo. E assim as coisas são:
é tão ruim a reputação perder
quanto errar e viver de ilusão.
Mas existe outra luta desigual.
O Brasil vive crise sem limite,
a reboque do grande capital
– se corrompe e a tudo se permite:
cidadãos com dinheiro e sem moral
e o governo arrotando ‘desculpite’...
pão e circo... et cœtera e tal...
E o país vai ficando sem seu ‘it’!
Nesse tempo de ‘fausses bonnes pommes’
em pomares de ética deserta,
uma moça chamada Alice Gomes
– diligente, inquieta e muito esperta –
em postagens na net cita nomes
e não deixa a verdade encoberta.
(Olhe, moça, cuidado com os ‘homis’,
por amor a si mesma, fique alerta!)
Ao que sei essa moça é perspicaz
transitando uma e outra ‘redação’:
jornalismo efetivo pensa – e faz;
suas cartas nos chamam à razão,
e escreve artigos bons demais,
igualmente com vera informação
- se até em poemas ela é ‘ás’!
Mas, e se ela errou de profissão?!
Uns escritos são mesmo alucinantes;
outros põem em suspenso o próprio ar;
uns nos tomam por simples rocinantes
que precisam de corda a lhes guiar.
E tem uns que nos fazem tão gigantes!
(Oh, que venham – e em dose cavalar!)
Mas alguém já havia visto antes
a Alice, de fato, adivinhar?
Eis que a moça, em certo comentário
no Recanto das Letras, bem predisse
o futuro de um povo perdulário,
que se afoga num lago de burrice
– raso, escuro e deveras refratário.
(Eu lhes digo, isso é muita bisonhice!).
Qual anônima moça?! É o contrário:
Pitonisa, teu nome é Alice!
(Caro(a) leitor(a): O texto 'Profetizar é perigoso', do colega Yamânu, disponível em http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/4174452, e publicado em 6 de março deste ano, por si já um escrito saudável a quem pensa. No mesmo dia, a Alucinante Alice Gomes inventa de profetizar mais - de forma que seu comentário foi copiado um dia depois, passando a fazer parte do corpo textual. Ante os acontecimentos recentes neste Brasil trigueiro, cantei esses versos: espero que divirtam - como a mim em fazê-los.)
(Ainda elucidando: chamo Alice de 'alucinante' desde que comecei a ler seus textos, há cerca de dois anos, por causa da música 'Alucinante Alice', da dupla Sá e Guarabira, que diz, simplesmente: "Dentro do nosso mundo um outro mundo achaste e as cores de que falas eu não conhecia.")