CORDEL INTRAVENOSO





CORDEL INTRAVENOSO
Silva Filho


Sei que assunto não falta
Pra engendrar um Cordel
Tampouco bom Menestrel
Abrilhantando a ribalta.
Se é bom, aos olhos salta
Sem requerer discussão
Por isso, meu caro irmão
Mesmo que o leitor não leia
Cordel pra pegar na veia
Tem que lembrar o Sertão.

No Sertão tem alegria
Tem comida diferente
O povo ali é mais gente
Sem qualquer hipocrisia.
Também não há heresia
Não tem trabalho em vão
A vida é quase canção
Sem o canto de sereia
Cordel pra pegar na veia
Tem que lembrar o Sertão.

Campeão é o vaqueiro
Quando tange a boiada
Por caatinga ou estrada,
Ao lado do bom tropeiro.
Noutra frente, o meeiro
Se não for um bom peão
Pois quem não veste gibão
Vai labutar com areia
Cordel pra pegar na veia
Tem que lembrar o Sertão.

Há uma farta culinária
Cuscuz, canjica e beiju
Doce de jaca e umbu
E outras porções agrárias.
Caboclo ganha diária
Se não tem o seu quinhão
Pois pra viver sem patrão
Só mesmo rompendo a teia
Cordel pra pegar na veia
Tem que lembrar o Sertão.

No Sertão tudo é perfeito
Qual verdadeira magia
O povo não tem fobia
Muito menos preconceito.
Ser pobre não é defeito
Importante é ter o pão
Sem a pecha de ladrão
E sem risco de cadeia
Cordel pra pegar na veia
Tem que lembrar o Sertão.

Há farto divertimento
Com festa pra todo lado
Um São João bem animado
Que deixa doutor atento.
Um namoro ao relento
Que escapa do clarão
Fazendo a cama no chão
O cabelo despenteia
Cordel pra pegar na veia
Tem que lembrar o Sertão.

Se a fome traz amargura
O Criador sempre acode
Com leitão, capão e bode
Com caça e rapadura.
Vale mesmo a bravura
Do homem forte - peão
Que não banca garanhão
Quando vê mulher alheia
Cordel pra pegar na veia
Tem que lembrar o Sertão.

Há um clima de respeito
Que não se tem na cidade
Há concreta amizade
Livre de qualquer despeito.
Levando a vida no peito
Campônio não brinca não
Faz bonito e dá lição
E com seu verso gorjeia
Cordel pra pegar na veia
Tem que lembrar o Sertão.