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BESTEIROL ACADÊMICO
Sem do povo uma pontinha
de opiniões, na palestra,
não concebo a poesia.
Há que se pôr isto em dia,
senão versejar nem presta.
Versejador que verseja
de maneira arrevesada,
sem a popular pimenta,
muito rojão não aguenta,
nem é menestrel de nada.
Um desses de academia,
com rei aceso nas ventas,
falou-me assim, nesta esfera:
"– Qualquer soneto já era,
inda que nas águas bentas."
A bancar formal ouvinte,
não refutei o letrado,
só que jamais um cordato.
Respeitei dele o mandato
no órgão conceituado.
Mas me digam o que fica,
sem querer fazer comícios:
vão permanecer modismos,
um desses cheios de -ismos,
ou os sonetos do Vinícius¹?!
Pensem, repensem, depois,
com seu senso muito crítico,
vejam se até uma trova
não é coisa mais que aprova
que o modernoso raquítico?
A poética moderna,
esta, sim, bem-sucedida,
merece aplausos também,
mas a popular, além,
viverá por toda a vida.
Já por ziguezaguear
palavras soltas, ao vento,
modernices, nos papéis,
não batem nem os cordéis,
de todos no pensamento.
Quem não reza na cartilha
de Catulo e Patativa?
Quem não curte o Juvenal,
Zé da Luz², e coisa e tal,
de lira acesa e mais viva?
Amigo da Academia,
você disse o que não quis.
Um soneto, até ruim,
não morre nem terá fim.
Quão você foi infeliz!
Homem de livros, letrado,
de nome n’Academia,
a dar de pau no soneto,
você meteu seu espeto
até onde não cabia.
Seu versejar estiloso,
de salamaleques cheio,
pode parecer bonito,
mas quem o lê sai aflito,
sem d’inspiração um veio.
“– Qualquer soneto já era,
inda que nas águas bentas.”
Esta e mais outras besteiras
vão além das estribeiras,
não cabem nas suas ventas.
Agora, seus versos chochos,
de livros meros produtos,
devem ser modismo novo,
contudo, às bocas do povo,
não se fixam nem dão frutos.
Fort., 09/07/2013.
BESTEIROL ACADÊMICO
Sem do povo uma pontinha
de opiniões, na palestra,
não concebo a poesia.
Há que se pôr isto em dia,
senão versejar nem presta.
Versejador que verseja
de maneira arrevesada,
sem a popular pimenta,
muito rojão não aguenta,
nem é menestrel de nada.
Um desses de academia,
com rei aceso nas ventas,
falou-me assim, nesta esfera:
"– Qualquer soneto já era,
inda que nas águas bentas."
A bancar formal ouvinte,
não refutei o letrado,
só que jamais um cordato.
Respeitei dele o mandato
no órgão conceituado.
Mas me digam o que fica,
sem querer fazer comícios:
vão permanecer modismos,
um desses cheios de -ismos,
ou os sonetos do Vinícius¹?!
Pensem, repensem, depois,
com seu senso muito crítico,
vejam se até uma trova
não é coisa mais que aprova
que o modernoso raquítico?
A poética moderna,
esta, sim, bem-sucedida,
merece aplausos também,
mas a popular, além,
viverá por toda a vida.
Já por ziguezaguear
palavras soltas, ao vento,
modernices, nos papéis,
não batem nem os cordéis,
de todos no pensamento.
Quem não reza na cartilha
de Catulo e Patativa?
Quem não curte o Juvenal,
Zé da Luz², e coisa e tal,
de lira acesa e mais viva?
Amigo da Academia,
você disse o que não quis.
Um soneto, até ruim,
não morre nem terá fim.
Quão você foi infeliz!
Homem de livros, letrado,
de nome n’Academia,
a dar de pau no soneto,
você meteu seu espeto
até onde não cabia.
Seu versejar estiloso,
de salamaleques cheio,
pode parecer bonito,
mas quem o lê sai aflito,
sem d’inspiração um veio.
“– Qualquer soneto já era,
inda que nas águas bentas.”
Esta e mais outras besteiras
vão além das estribeiras,
não cabem nas suas ventas.
Agora, seus versos chochos,
de livros meros produtos,
devem ser modismo novo,
contudo, às bocas do povo,
não se fixam nem dão frutos.
Fort., 09/07/2013.
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(¹) Vinícius de Moraes, o modernista
brasileiro, um excelso sonetista.
(²) Os poetas aí citados, todos de lira muito
popular, são, pela ordem, Catulo da Paixão
Cearense, MA, autor de Luar do Sertão,
Patativa do Assaré, Antônio Gonçalves da
Silva, CE, autor de Cante lá, que eu canto
cá, Juvenal Galeno, CE, autor de Lendas e
canções populares e Zé da Luz, ou Severino
de Andrade Silva, PB, autor de As fulô de
Puxinanã.