O MENINO DOS PÉS SUJOS.

Vejam amigos leitores

Que caso mais comovente

Que nos ajuda a pensar

De maneira diferente

Quando não damos afeto

Ao irmão que está por perto

fazendo dele um ausente.

O que passo a contar

Passa com nós também

É o caso de um menino

Que era só sem ninguém

Não tinha teto nem ninho

Foi assim que entrou sozinho

Em uma estação de trem.

Não sem bem o seu nome

Nem quantos anos contava

Por ser assim tão franzino

O seu corpo enganava

Quem lhe via dava dó

Pois parecia menor

Do que a idade mostrava.

Quando o trem deu partida

Correndo por sobre o trilho

Uma senhora olhou

Para o pequeno andarilho

Que junto dela sentava

Ao ponto de quem olhava

Achava ser mãe e filho.

E a viagem seguiu

O vagão foi lotando

Os passageiros espremidos

Com o espaço faltando

E o menino do trem

Se apertava também

Com a mulher lhe olhando.

Por ser assim tão pequeno

Não chamava a atenção

Com o trem seguindo em frente

De estação em estação

Ele ouvia os burburinhos

Balançando os pezinhos

Sem alcança-los no chão.

Entre uma estação e outra

Ele ia distraido

Balançando os seus pés

Sem nada ter percebido

Que a mulher reclamava

Porque o menino sujava

A barra do seu vestido.

A mulher franziu a testa

Pra o inocente do trem

E disse, você não tá vendo

Que com esse vai e vem

Os seus pés sujos de barro

No balançar desse carro

Tá me sujando também?

No meu tempo não era assim

Os meninos eram educados

Aonde está a sua mãe

Que não lhe dá uns tratados

Que absurdo tamanho

Mande ela lhe dar banho

E lhe bote uns calçados.

Foi nessa hora de angústia

Que a criança respondeu

Meus pés vivem descalços

Pisando pedra e breu

Neste destino tacanho

Não tenho quem me der banho

A minha mãe já morreu.

E o meu pai foi embora

Por esse mundo bebendo

Se esquecendo de mim

Eu vivo assim padecendo

Mais não lhe acho um louco

Sei que de pouco a pouco

Ele também tá morrendo.

E eu fiquei como estou

Padecendo nesse drama

Sem comida e sem teto

Sem coberta e sem cama

Não tenho quem me der trato

Vivo assim sem ter sapato

Pisando em pedra e lama.

Mais se a senhora quiser

No fim dessa estação

Me leve na sua casa

Me sirva água e sabão

Que fico comprometido

De lavar o seu vestido

Por um pedaço de pão.

Depois deixo a sua casa

Não lhe cobro um vintém

Com os pés sujos de barro

Vou embora em outro trem

Com isso vou me lembrar

Que nunca mais vou sujar

O vestido de ninguém.

A conversa ficou em silêncio

Dentro do vagão inteiro

Se ouvia um canto triste

De um pássaro sem paradeiro

E sem ter galho pra dormir

Assim todos pararam para ouvir

O pequeno passageiro.

A mulher ali sentiu

Na sua alma desgosto

Por ter sido intolerante

Com o menino disposto

Que lhe tirou o pesar

Mudando o seu pensar

Com lágrimas vindas no rosto.

Então triste e comovida

Tomou o guri pela mão

Lhe oferecendo um lar

Com coberta cama e pão

Foi essa a lição que a vida

Deixou a mulher vencida

Pelo afeto e compaixão.

Muitas vezes nós também

Sentimos essa verdade

Sofrendo nas estações

Do desprezo e da maldade

Com os pés sujos do preconceito

Precisamos é ouvir direito

A boa voz da caridade.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 17/06/2013
Reeditado em 18/06/2013
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