Diálogo que só Nordestino entende **

Cada canto do Brasil

Tem jeito peculiar

De expressar belezas mil

Em um modo de falar

No entanto o nordestino

Com um dom especial

Nunca fica em desatino

Se destaca sem igual

Na maneira de falar

Um trejeito que agrada

Um orgulho a se prezar

Dessa marca registrada

Aico é álcool, aguardente

Pra dela dar uma bicada

E com isso se atente

Quando der uma golada

Seja morena ou loura

Se sentiu um passamento

Tá batendo uma biloura

Vertigem, muito tormento

Vou ficando por aqui

Mas queria continuar

Mas eu sei, se for assim

Nunca mais vamos parar

Mas deixo o meu recado

Deixem de ter preconceito

Fica esperto e ligado

É preciso ter respeito

Cada povo tem um jeito

Diferente de falar

E ninguém é tão perfeito

Pra querer nos esnobar

Não se espante se ao acaso

Você não nos entender

O falar do nordestino

Único sempre vai ser

Mas se o troço avançar

Preste muita atenção

Para ninguém emprenhar

E ficar na perdição

Quem vai embora pega o beco

Ou então está chegando

Coisa ruim engole a seco

Quase vou me atrapalhando

Paletó é de granfino

De madeira é caixão

Gente mole é mufino

Mulher feia é canhão

Fui andar com a magrela

Pense na decepção

Nunca que será tão bela!

Mais parece um cambão!

Nordestino tá amuado

Nem se meta a enxerido

Tá de bode amarrado?

-Saia logo, prevenido!

Ao em vez de cafuné

cascavêio vai chamar

Com a mão ou com o pé

O negócio é afagar

Homem lezo é brocoió

Mulher besta é pomba leza

Solteiro no caritó

só se apega a muita reza

O forró é rala bucho

Muita dança e alegria

Não tem besteira nem luxo

Dançando de noite e dia

Cor de burro quando foge

É coisa sem explicação

Igual mulher de bigode

Ou homem de afinação

Coroinha é sacristão

Mulher velha é coroa

Muito lero é enganação

Bolacha de coco é broa

Se quiser aparecer

Dê o ar de sua graça

Burros n’água é perder

É cair em tal desgraça

O dindin ou sacolé

Refresca no calorão

Milho verde dá no pé

Pra festa de São João

Quem está apaixonado

Se derrete pelo chão

Fica até destemperado

Com o coração na mão

No nordeste todo mundo

É Maria e seu Zé

Não tem João e nem Raimundo

Nem Odete nem Raqué!

Tudo muito bonitinho

E bastante arrumado

Deite vem devagarinho

E fique bem sossegado

Ô Coisinha, vou dizer!

Seu Bichinho vou chamar!

Desconhece, venha ver

A marola lá no mar!

Outra coisa interessante

É corpo de nordestino

Ganha nome diferente

Para o mesmo destino

Zóio, venta e zurêia

Beiço e o cabeção

Cangote mostrando a veia

Até a palma da mão

No frente tem dois mamão

Se for homem tem caixote

Na barriga um buchão

Seja velho ou mulecote

O imbigo é no meio

Da pança protuberante

Na perna tem os cambito

No joelho, algo aberrante

Seja morena ou loura

Se sentiu um passamento

Tá batendo uma biloura

Vertigem, muito tormento

Vou ficando por aqui

Mas queria continuar

Mas eu sei, se for assim

Nunca mais vamos parar

Mas deixo o meu recado

Deixem de ter preconceito

Fica esperto e ligado

É preciso ter respeito

Cada povo tem um jeito

Diferente de falar

E ninguém é tão perfeito

Pra querer nos esnobar

Não se espante se ao acaso

Você não nos entender

O falar do nordestino

Único sempre vai ser

Rico em variedade

Feito feira artesanal

Seja no campo ou cidade

É bonito e legal

Tô chegando,vou embora

Tá na hora de dar tchau

Tá chegando a minha hora

Penso eu que foi legal

Deu pra você cavocar

Um pouco de nossa fala

Agora vou me mandar

Pois não quero mais ser mala!

Santa Rita; Janeiro (e reformulado em Junho) de 2013

** Cordel publicado no Município de Santa Rita - Paraíba em 2013

Lais L S
Enviado por Lais L S em 15/06/2013
Código do texto: T4343357
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