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O que eu já vi no trem
Indo para trabalhar
É hilário dependo
Do seu modo de pensar
E comovente demais
Se você olhar pra trás
E de novo a cena olhar
E na madrugada fria
Longe surge dois faróis
Um trem contra a madrugada
E Deus a favor de nós
A plataforma lotada
Nessa hora agoniada
Solto meu grito sem voz
Pois a pressa é tão graúda
Pra arrumar um assento
Que eu caído no chão
Rezando choro e lamento
E peço força ao senhor
Para ser meu livrador
Desse grande sofrimento
A tal voz desconhecida
Fala em forte e alto som
Como se o ser humano
Fosse um animal bom
Respeite a lei do momento
Deixando livre o assento
Que possui cor de tal tom
Começa então a disputa
Pra sentar nesse momento
Eu fraquinho pra danar
Que nem andar eu aguento
Logo sinto um empurrão
E caído ali no chão
Peço a Deus por livramento
Daí surge heróis fardados
Com roupas fosforescentes
Me levantando do chão
Vou ficando consciente
Sento mais ou menos bom
Na poltrona do tal tom
Que ouvi recentemente
E começa meu trajeto
Num percurso que demora
Quando vai tudo normal
Ele dura uma hora
Mas se algo der errado
O trem fica ali parado
E a coisa então piora
Pois o tempo vai passando
O trem parado na linha
Depois anda um pouquinho
E dar outra paradinha
E o povo agoniado
Nem pode virar pro lado
Igual peixe na latinha
Porém é ruim pra mim
Mas tem gente que adora
Pois já vi homem safado
Botar o bicho pra fora
Ali naquela peleja
Fazer tudo que deseja
Acochando uma senhora
Vi sorrindo um maquinista
Porque tava ali parado
Um rapaz bater num moço
Que falava delicado
Vi uma tal juventude
Matar um sujeito rude
Só por ser de outro estado
É muito bom pra pedinte
Também para camelô
Se tem aglomeração
Arrecada mais valor
Melhor pra nosso prefeito
Que sossegado em seu leito
Esquece do sofredor
Vi mulher deficiente
Com problema visual
Com comportamento estranho
Que eu achei anormal
Sem enxergar uma luz
Dizia até que Jesus
Nasceu de perto normal
Todo mundo ali sentado
Indo pra algum lugar
A senhora ali de pé
Pois não queria sentar
Com grandes óculos escuros
E o corpo todo duro
Começava então xingar
Eu sou filha de Jesus
E amiga do capeta
Eu já lutei caratê
E ganhei a faixa preta
Não gosto de coisa chula
Sou do partido de Lula
E da presidente eleita
E com um celular velho
Sem possuir bateria
A senhora então discava
E alguém lhe atendia
Era seu advogado
Pra processar o tarado
Que a ela perseguia
Já vi um homem apressado
Quase perder sua mão
Todo mudo aglomerado
Pra entrar num tal vagão
Empurrou o desgraçado
Que ficou ali parado
E chamou minha atenção
Pois o trem abrindo a porta
Levou sua mão também
Gente vinha gente ia
Ele não vai e nem vem
Ao cessar o movimento
Vi ali do meu assento
O homem preso no trem
Mas surgiram voluntários
Homens de bom coração
Que puxaram logo a porta
Na maior preocupação
E livrou o avexado
Para não ser arrastado
Por aquela condução
Vi repentista com versos
Causando grande alegria
Vi pregador de sucesso
Irritar a quem dormia
Vi camelô de renome
Nesse dia passar fome
Ao perder o que vendia
Aquele pobre chorou
Dando seu sangue seu fardo
A um safado sem cor
Pelo seu chefe mandado
Que lá dentro da cabine
É quem ordena e define
O pior pra ser doado
E vi mas coisas que sinto
Até vergonha em dizer
Como um governador
Que está no seu poder
Cabeçudo igual um prego
Aceita um surdo ou cego
Mendigar para viver
La na estação da luz
Que é meu ponto final
Ao sair da estação
Sofri como um animal
Tomei chute tapa e soco
Por um segurança louco
Da guarda municipal
Eu comecei a pular
Qual dançarino de frevo
Tomei tanta cacetada
Que saiu sangue do nervo
Sem poder me levantar
Eu ousei a perguntar
Senhor a ti o que devo?
Nessa hora meu amigo
Eu levei voz de prisão
Botaram em mim as algemas
Ali caído no chão
Um guarda de nome sapo
Me prendeu por desacato
Desrespeito à guarnição.
Ninguém sabia o motivo
Por esta me cacetando
Eu levantei meio tonto
E sair cambaleando
Agradeci por ta vivo
E ciente do motivo
Por que estava apanhando
Essa condução é útil
Fato que eu reconheço
Mas se vejo uma gestante
Meu assento eu ofereço
Mas se vejo um G.C.M
Até meu cabelo tremo
De medo e raiva eu padeço.
Com 65 anos
Vivo a Deus fazendo prece
Pois sei que nenhum velhinho
Preto pobre não merece
Passar por tanto desgosto
Pra poder chegar no posto
Do I.N.S.S.
Nação feroz de rosto, que não respeitará o rosto do velho, nem se apiedará do moço; Deuteronômio 28:50