O que herdei do meu pai... Parte I Autor: Damião Metamorfose.
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Meu pai foi um lavrador
Das terras deste Sertão.
Escravo branco da lida
E os mandados do patrão.
Enfrentou dificuldade
Mas me deu dignidade,
Caráter e educação...
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Eu não ganhei um tostão
Do meu pai que enchesse a pança.
Fui gerado por um pobre
Sou pobre desde criança.
Mas por ser um homem honrado
Esse exemplo eu tenho herdado
E não tem preço essa herança!
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Nem dinheiro nem poupança
Nem latão nem prata ou ouro...
Nem vaca boi ou cavalo,
Arreio e chapéu de couro
O que o meu pai deixou
Como herança é o que sou...
E não tem maior tesouro!
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Foi agricultor calouro,
De mão grossa e calejada.
Do machado, da chibanca,
Da alavanca e da enxada...
E do tesouro desse escravo
Eu não herdei um centavo
Mas não o troco por nada!
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Foi retirante na estrada,
Retirante sem destino.
Sem um teto pra dormir
Sem sombra e com o sol a pino.
E o que me deu como herança
Foi esse homem criança,
Poeta, inquieto, traquino...
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Morreu velho e foi menino
Até o último suspiro.
Foi e é o meu herói
Para sempre eu te admiro.
E a herança recebida
É que a escola de sua vida
Um dez, eu sei que não tiro.
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No meu passado eu dou giro
Mais veloz do que um corcel.
E ouço meu pai dizendo:
Melhor ser mel do que fel.
Quero ser igual a Ele
E o que eu herdei dEle
Serviu pra fazer Cordel!
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Meu pai não foi menestrel,
Mas era um poeta nato.
Pois não ficava calado
Diante de um “gaiato”
Como era um analfabeto
Seu passa tempo dileto
Era a roça e limpar mato!
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Meu passado é o meu retrato
Arquivado na lembrança.
Da infância e juventude
E do tempo de criança.
Quando eu faço essa viagem
Levo e trago na bagagem
O que meu pai deu de herança!
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Sempre cheio de esperança
Era assim que meu pai era.
Pobre, humilde e analfabeto,
Morava numa tapera.
Mas confesso que eu queria
Ser igual a Ele um dia
Quem dera meu Deus, quem dera...