BOLETIM DE OCORRÊNCIA



BOLETIM DE OCORRÊNCIA
Silva Filho


Senhor Doutor Delegado
Trago u’a séria ocorrência
Declaro que fui roubado
Por gente de influência;
Anote aí no seu livro
E mande passar o crivo
Faça logo a diligência.

Usurparam meu salário
Alegando ser imposto
Deixaram-me de otário
Mas não mostraram o rosto;
Foi o conto-do-vigário
Pelo intermediário
Denominado preposto.


Com um tal de compulsório
Eu fiquei a ver navio
O delito é notório
Isto é um desafio;
Pode passar a algema
Pois a Justiça condena
A trinta anos a fio.

Com manobra tributária
Já perdi muito dinheiro
Situação temerária
Para cidadão ordeiro;
Nesse clima de derrama
Quem desse abuso reclama
Vai passar por desordeiro.

Senhor Doutor Delegado
O imposto que paguei
Dizem que foi desviado
E para onde não sei;
Mesmo que não lhe convença
Tirei da minha despensa
E ao bandido entreguei.

O dinheiro que sumiu
Devia ser do ESTADO
Em benefício do POVO
DESSE POVO TÃO ROUBADO;
Pelos Estados Unidos
Milhões foram recolhidos
Em negócio mal contado.

Outros milhões saqueados
Dos cofres da Previdência
Deixaram bem consumado
O rastro da delinquência;
Dinheiro não encontrado?
Basta que o aposentado
Pague pela imprevidência.

Em São Paulo grande rombo
Pra fazer um Tribunal
Decisão em causa própria
Pra formar um cabedal;
Cento e sessenta milhões
Escoaram nos porões
Em prol do doutor lalau.


Outros rombos mais recentes
Chegaram de ambulância
Dossiês e Mensalões
Que não tiveram infância;
Já nasceram bem crescidos
Com padrinhos convencidos
Do Poder e da Ganância.

Senhor Doutor Delegado
Já não sei o que fazer
Temos Carga Tributária
Que nem europeu quer ter;
Os tributos recolhidos
Regiamente divididos
Onde estão? Quero saber.