O CHORO DO SABIÁ



O CHORO DO SABIÁ
Silva Filho


Quando morreu a palmeira
O sabiá foi chorar
Debaixo da laranjeira
Lágrimas a desaguar;
Depois de tanta fogueira
Nem mesmo mulher rendeira
Aguentou este lugar.

A mata com sua nobreza
Foi despida do seu manto
E toda a rara beleza
Converteu-se em barranco;
O homem com avareza
Preferiu a ‘esperteza’
Acabando o seu recanto.

Assorearam os rios
Desnudaram as colinas
Neste deserto sombrio
Falta o galo-de-campina;
É de causar arrepio
Todo este atavio
Onde a vida desafina.

Entrementes, uns farsantes
“Salvadores do Ambiente”
Não enfrentam os gigantes
Chamados de influentes;
Mas são muito atuantes
Proibindo as vazantes
Para quem diz um ‘oxente’.

A Natureza fenece
Com tamanha hipocrisia
A Amazônia definha
Porque tem asfixia;
O pulmão deste Planeta
Com sua grande mancha preta
Quer somente enfermaria.