A QUEM ISTO INTERESSA?
Eu vendo a terra rachando
Gado morrendo de sede
Agonizando na rede
Eu conheci Severino
Que não pôde ser menino
Pois a vida não deixou
Meu coração magoou
Eu me senti revoltado
Prostado ali de lado
A minha alma chorou
Não basta bolsa família
Não basta a bolsa escola
Tudo pra mim é esmola
Que não traz dignidade
Todos fogem pra cidade
O campo estar abandonado
Não existe mais roçado
Pois morreu a plantação
A vaquinha, o alazão
Tudo é coisa do passado
Severino foi curado
Sua doença era fome
Mesmo pouco hoje ele come
Mora na periferia
Mas não conhece alegria
Seu pai não encontrou trabalho
Seu irmão pegou um atalho
Logo foi aliciado
E hoje vive drogado
Mas parece um espantalho
O ócio é convite ao crime
Berço da inquietude
O que fazer com a juventude
Que migrou para a cidade
À vulnerabilidade
São expostos sem querer
Que diferença faz morrer
Por isso uma arma na mão
A ocasião faz o ladrão
É certo o seu padecer
Quantas famílias existem
Como as de Severino
Neste sertão nordestino
E a quem isto interessa?
Pra que mudar, não tem pressa
Rende voto em eleição
Por isto a corrupção
Os crimes, as roubalheiras
Geram novos “Cachoeiras”
E afundam nossa nação. (Celso Cruz)