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A SECA É SOAR DE SINO
NOS CAMPANÁRIOS DA MORTE
Odir Milanez



 
O sertanejo, sedento,
sobre a seca faz vigília.
Sente a sina da família
só pelo sopro do vento.
Preso ao próprio pensamento,
quer da vida um passaporte
que da miséria os transporte
ao sortilégio sulino.
A seca é soar de sino
nos campanários da morte...
 
A pele é palha enrugada
igual às crestas do chão.
Os calos de cada mão
colam no cabo da enxada.
A visão de não ver nada
de nuvem no sul ou norte,
tem o sobrosso da sorte
malsinando o seu destino.
A seca é soar de sino
nos campanários da morte...
 
Casa de barro curtido
pela solama severa.
Triste tipo de tapera
sem posses nem possuído!
Pelo vento destruído,
o teto, de trança forte,
pendeu, perdeu o suporte,
ficou frágil, falho e fino.
A seca é soar de sino
nos campanários da morte...
 
As paredes carcomidas
desnudam seu desconforto.
Um fogão de fogo morto,
três panelas encardidas,
quatro redes estendidas
pelo chão, sem mais aporte.
Um pote seco. A consorte
cantando reza ao divino.
A seca é soar de sino
nos campanários da morte...
 
Seis filhos! Ventre bizarro
no corpo de cada um.
Comendo cardo e anum,
bocando bolos de barro,
 regurgitando no escarro
o caulim que o corpo corte.
Antes que a vida os aborte,
 vinde, ó Deus do Nordestino!
A seca é soar de sino
nos campanários da morte...
 
 
JPessoa/PB
01.05.2013
oklima
 
 

 
oklima
Enviado por oklima em 01/05/2013
Código do texto: T4268659
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