Como já choveu na mata Vamos rezar pro sertão.

Mais uma parceria com Ansilgus e Edmilton Torres.

O mote é de Ansilgus.

Edilson Biol:

O nordeste brasileiro

É imenso e variado

Terra de um povo faceiro

Mas que sofre um bocado

Pela seca em longa data

E a falta de compaixão

Como já choveu na mata

Vamos rezar pro sertão.

Nem todos têm tanta sorte

De morar no litoral

Onde a chuva vem mais forte

E é maior o capital.

Lá quem mora é magnata

Coisa de rico e patrão

Como já choveu na mata

Vamos rezar pro sertão.

O sertanejo trabalha

Planta feijão e não vinga

Cada dia uma batalha

Capinando a caatinga

Planta mandioca e batata

E espera a chuva no chão

Como já choveu na mata

Vamos rezar pro sertão.

Veja só, que bom seria

Ver o nordeste irrigado

Mas já virou utopia

Ver o Chico desviado

As máquinas tão em sucata

Nada de transposição

Como já choveu na mata

Vamos rezar pro sertão.

O que me deixa zangado

É ver tanta indiferença

Por parte do nosso Estado

Que nesse povo não pensa.

O Brasil é democrata

Mas vigora a opressão

Como já choveu na mata

Vamos rezar pro sertão.

A chuva que vem do céu

Ninguém pode controlar

Mas deixar o povo ao léu

Não dá para se aceitar

Só dão valor para a nata

E o pobre fica na mão

Como já choveu na mata

Vamos rezar pro sertão.

Só é lembrado o nortista

Quando vem nova campanha

Mostram uma grande lista

Os malditos sem vergonha

Registram até em ata

Obras da sua gestão

Como já choveu na mata

Vamos rezar pro sertão.

Eu sonho com a chuva fina

Caindo no meu telhado

Como na festa junina

Sorrisos de lado a lado

Aquele céu cor de prata

Cheio de nuvem e trovão

Como já choveu na mata

Vamos rezar pro sertão.

Nós vemos a presidente

Viajando mundo a fora

Toda feliz, sorridente

Mas o nordeste ignora

Esquece que essa mamata

Depende da reeleição

Como já choveu na mata

Vamos rezar pro sertão.

O meu cordel é modesto

Sou um poeta amador

Não vá me fazer protesto

Pois faço tudo com amor

Se eu fosse um psicopata

Sujaria a minha mão

Mandava “os de gravata”

Pra setes palmos do chão.

Ansilgus:

A lavoura improdutiva

Morreu toda, sim senhor,

Foi uma perda coletiva

Para todo agricultor

Mas no sul é só mamata

Ninguém perde nada não

COMO JÁ CHOVEU NA MATA

VAMOS REZAR PRO SERTÃO

No semiárido também

A seca está devastando

Não vai escapar ninguém

A terra está se quebrando

O gado morre em cascata

Faltando água e ração

COMO JÁ CHOVEU NA MATA

VAMOS REZAR PRO SERTÃO

Não tem milho nem feijão

Algodão já nem se fala

Coitado do cidadão

Que perde o gado e se cala

Parece até acrobata

Sofrendo de inanição

COMO JÁ CHOVEU NA MATA

VAMOS REZAR PRO SERTÃO

As cenas que pude ver

Na minha televisão

Causou traumas pode crer

O gado seco no chão

Meu Deus que vida ingrata

Parece até maldição

COMO JÁ CHOVEU NA MATA

VAMOS REZAR PRO SERTÃO

Enquanto isso seu moço

A gastança envenenada

Cada dia aumenta o fosso

Daqui para a Esplanada

Onde só existe magnata

A afundar a nação

COMO JÁ CHOVEU NA MATA

VAMOS REZAR PRO SERTÃO

Não se vê nada concreto

Salvo as bolsas esmolas

Que são pratos prediletos

Valem mais do que escolas

Onde o país democrata?

Só em tempo de eleição...

COMO JÁ CHOVEU NA MATA

VAMOS REZAR PRO SERTÃO

Mas meu Deus com tanta água

Aqui perto bem no norte

Por que causar tanta mágoa

De tristeza e de morte

No país do burocrata

No Nordeste meu irmão

COMO JÁ CHOVEU NA MATA

VAMOS REZAR PRO SERTÃO

Mas o nosso São Francisco

Tem água até demais

Pra fornecer ao aprisco

E irrigar tudo em paz

No país aristocrata

Onde só manda ladrão

COMO JÁ CHOVEU NA MATA

VAMOS REZAR PRO SERTÃO

Não tem palma nem capim

Nem mesmo barba de bode

A vida ficou ruim

Desse jeito não se pode

Eu como cardiopata

E com dor no coração

COMO JÁ CHOVEU NA MATA

VAMOS REZAR PRO SERTÃO

Onde estão Dilma e Lula

Que só sabem prometer

Só gostam de quem bajula

Matuto vai derreter

Os grandes só de gravata

As obras com lentidão

COMO JÁ CHOVEU NA MATA

VAMOS REZAR PRO SERTÃO

Edmilton Torres:

Todos sabem que o nordeste

Convive com seca há anos

Mas a nação não investe

Pra minimizar os danos

Que ao nosso povo maltrata

Sem dó e sem compaixão

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

Se houvessem mais açudes

Encheriam no inverno

Mas faltam as atitudes

Nas instâncias do governo

O que vemos é bravata

Só promessa e enganação

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

Esta seca se repete

De trinta em trinta anos

Eu tenho cinquenta e sete

Carregando desenganos

Que um dia se combata

As causas dessa aflição

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

Só resta a Deus apelar

Pois o governo é omisso

Político é bom no falar

Mas é ruim no compromisso

Um bando de burocrata

Sem preparo e sem visão

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

Até a palma morreu

Por causa da cochonilha

O gado enfraqueceu

Não escapa nem novilha

Sem ajuda imediata

Vai morrer de inanição

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

O Sertão está perdendo

Quase todo o seu rebanho

Pois está acontecendo

Um descaso sem tamanho

Quem acompanha constata

Como é grande a omissão

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

O agricultor é forte

Mas não resiste e chora

Entregue à própria sorte

Ajuda de Deus implora

Com os olhos em cascata

Vê morrer a plantação

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

Devendo ao banco e com fome

O sertanejo padece

O desespero o consome

Quando o banqueiro aparece

Pra cobrar a duplicata

Com juros e correção

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

Quando um dia a chuva vir

O povo vai semear

Voltaremos a sorrir

E a Deus glorificar

Pois nossa fé é inata

No poder da oração

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

A chuva tão esperada

Deixa o sertão comovido

Pois o som da trovoada

É música para o ouvido

É como uma serenata

O ribombar do trovão

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

Ver um açude sangrando

Ou um riacho correndo

U’a semente germinando

Um pé de milho crescendo

A emoção arrebata

Nosso humilde coração

Como já choveu na Mata

Vamos rezar pro Sertão

Edilson Biol, Ansilgus e Edmilton Torres
Enviado por Edilson Biol em 29/04/2013
Reeditado em 29/04/2013
Código do texto: T4265466
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