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CASO DE CABRA DA PESTE
Tangido por grande seca,
Pisou no bredo um vaqueiro,
Que foi bater no Sudeste,
Atrás de trabalho agreste,
Como um rude brasileiro.
Nas águas de Itu paulista,
Nos confins do grande Estado,
O emigrante achou fazenda,
Que mais era como lenda,
Tanto a mansão do abastado.
– Cabra, aqui trabalho tenho,
Mas você vem do Nordeste.
Não gosto de sua gente,
Que se diz muito valente,
E talvez você nem preste.
Isto disse o fazendeiro,
Encarando o nordestino,
Ao que o rapaz respondeu,
Como quem bate em judeu,
Depois de tanger um sino.
– Para o voo de um inhambu,
Nunca dou nem atenção,
Porque de ronco não fujo.
Para mim, o medo é sujo,
Mas não me põe comoção.
Abaixe sua pancada,
Fale com homem direito.
O senhor pode mandar
Nos cafezais do lugar,
Não aqui neste sujeito.
Venho de plagas distantes,
Sertão de chão ressequido,
Onde boi pegava a muque.
Não falo com rei nem duque,
Mas com um rico atrevido.
Se o senhor me dá serviço,
Já topo qualquer trabalho,
Só que abuso eu não engulo.
A nenhum patrão adulo,
Nem com ronco me atrapalho.
Cabra, mas respeitador,
Também dos regulamentos,
E não lhe passo por cima.
Um peão que patrão mima
É lixão dos excrementos.
De José ouvindo as falas,
Até com toda atenção,
O galego amarelou,
Deu-se às boas e falou:
– Passou no teste, peão!
Você já é meu feitor,
Que perdi um pra cachaça.
Bebia que nem gambá.
Era lá do Ceará,
E nunca me fez trapaça.
Minhas desculpas, José.
Não gosto de adulação;
Eu fui grosseiro, sabendo.
Numa prova lhe inscrevendo,
Você deu bem a lição.
Assim, sem agachamento,
Sem ser cabrinha de peia,
José foi cabra da peste:
Pobre, honrado e do Nordeste,
Tão longe e na pátria alheia.
Fort., 22/04/2013.
CASO DE CABRA DA PESTE
Tangido por grande seca,
Pisou no bredo um vaqueiro,
Que foi bater no Sudeste,
Atrás de trabalho agreste,
Como um rude brasileiro.
Nas águas de Itu paulista,
Nos confins do grande Estado,
O emigrante achou fazenda,
Que mais era como lenda,
Tanto a mansão do abastado.
– Cabra, aqui trabalho tenho,
Mas você vem do Nordeste.
Não gosto de sua gente,
Que se diz muito valente,
E talvez você nem preste.
Isto disse o fazendeiro,
Encarando o nordestino,
Ao que o rapaz respondeu,
Como quem bate em judeu,
Depois de tanger um sino.
– Para o voo de um inhambu,
Nunca dou nem atenção,
Porque de ronco não fujo.
Para mim, o medo é sujo,
Mas não me põe comoção.
Abaixe sua pancada,
Fale com homem direito.
O senhor pode mandar
Nos cafezais do lugar,
Não aqui neste sujeito.
Venho de plagas distantes,
Sertão de chão ressequido,
Onde boi pegava a muque.
Não falo com rei nem duque,
Mas com um rico atrevido.
Se o senhor me dá serviço,
Já topo qualquer trabalho,
Só que abuso eu não engulo.
A nenhum patrão adulo,
Nem com ronco me atrapalho.
Cabra, mas respeitador,
Também dos regulamentos,
E não lhe passo por cima.
Um peão que patrão mima
É lixão dos excrementos.
De José ouvindo as falas,
Até com toda atenção,
O galego amarelou,
Deu-se às boas e falou:
– Passou no teste, peão!
Você já é meu feitor,
Que perdi um pra cachaça.
Bebia que nem gambá.
Era lá do Ceará,
E nunca me fez trapaça.
Minhas desculpas, José.
Não gosto de adulação;
Eu fui grosseiro, sabendo.
Numa prova lhe inscrevendo,
Você deu bem a lição.
Assim, sem agachamento,
Sem ser cabrinha de peia,
José foi cabra da peste:
Pobre, honrado e do Nordeste,
Tão longe e na pátria alheia.
Fort., 22/04/2013.