ANTÔNIO TEODORO DOS SANTOS GARIMPEIRO DO CORDEL
(Marciano Medeiros)
Foi Antônio Teodoro
Dos Santos, grande poeta:
Redigiu muitos romances,
Publicando obra seleta,
Que permanece atual
Por ser bastante direta.
Filho de Jaguarari,
Um município baiano,
Quando chegou dezesseis
Nasceu naquele bom ano,
Vivendo no século vinte
Conforme o divino plano.
Aprendeu fazer cordéis,
Tendo instinto pioneiro,
Também quis ter profissão
Na arte de garimpeiro,
Percorreu muitos lugares
Do nosso chão brasileiro.
Mas a luz da poesia
Brilhou no seu coração,
Para escrever amplamente
Teve grande inspiração,
Retratando os cangaceiros
Quase atinge a perfeição.
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Nordestino persistente
Tornou-se desbravador,
Indo morar em São Paulo,
O homem batalhador,
Na editora Prelúdio
Foi menestrel de valor.
Compôs diversos trabalhos
Na capital bandeirante,
Primava por qualidade
Fazia texto sonante,
Para conquistar leitores
Mostrou poder cativante.
Logo o novo romancista
Ficou bastante afamado,
Quando produziu enredo,
Do famoso João Soldado,
O leitor reconheceu,
Estilo aperfeiçoado.
Falou sobre muitos temas,
Dando destaque ao cangaço.
Seus mais bonitos romances,
Publicou, sem embaraço:
Os Olhos de Minha Mãe,
E fez Lágrimas de Palhaço.
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Noutra fase o cordelista
Biografou Virgolino,
O terrível Lampião,
Bandoleiro nordestino,
Que combateu a polícia,
Sem medo de desatino.
Usou linguagem segura
E texto superior,
Descrevendo os cangaceiros,
Antônio foi narrador,
Num trabalho diferente
Pelo jeito inovador.
A grandeza de São Paulo,
Foi outro tema falado.
Também Maria Bonita,
Teve o destino contado,
Por este pesquisador
Eclético e bastante ousado.
Nos romances redigidos
Não produziu texto opaco —
Lampião com Dioguinho,
Tudo contou sem pitaco:
Da briga que eles tiveram,
Sem nenhum dos dois ser fraco.
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E do presidente Vargas
Lembrou-se na poesia,
Detalhando o suicídio
Com muita sabedoria,
Mostrou o fim deste líder,
Naquele terrível dia.
A narrativa em cordel
Teve sucesso alarmante,
Vendeu durante um só mês
De modo impressionante,
Quantidade de exemplares,
Até hoje exorbitante.
Duzentos e oitenta mil
Romances foram vendidos,
Até mesmo os escritores
Ficaram persuadidos,
A pesquisar os motivos
Dos numerosos pedidos.
A repercussão da morte
De Getúlio num cordel,
Fez Orígenes Lessa, andar,
Com o Raymond Cantel,
Para explicar tanta venda
Daquele drama cruel.
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Outro poema do vate
Chegou a ser musicado,
Logo Tonico e Tinoco
Cada qual mais afinado,
Deram destaque a Antônio,
Após o texto gravado.
Isso deu proximidade
Com ligação inconteste,
Entre a cultura paulista;
E a que saiu do Nordeste,
Gerou mistura feliz,
Aprovada em qualquer teste.
Mas o poeta seguiu,
Andando por praça e rua.
Ao produzir lindos versos
Na redação continua,
Falando para os leitores,
Sobre a conquista da lua.
Na editora Prelúdio
Continuou publicando,
Mas problemas pessoais
Chegaram prejudicando,
O poeta foi aos poucos
Do sucesso se afastando.
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Começou usar bebidas
Mergulhou no alcoolismo,
Ninguém tolerou o vício
Do poeta do lirismo,
Que se jogou prontamente,
Naquele terrível abismo.
Depois de pensar bastante,
Vestiu-se de paletó.
No ano setenta e dois
Entrou na Prelúdio só,
Viu seu projeto cair –
Virando simbólico pó.
Arlindo Pinto de Souza
Agiu com muita frieza,
O diretor da Prelúdio
Teve implacável firmeza,
Não aceitou mais trabalhos
Do vate naquela empresa.
Ele trouxe um caderninho
Com a nova produção,
Mas o diretor Arlindo
Sequer prestou atenção;
E Teodoro saiu,
Dali com forte emoção.
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Voltou para a residência
Onde a esposa, encontrou.
Abraçando os seis filhinhos
Para ninguém se queixou,
Mas nesse dia em seu quarto,
De madrugada chorou.
A partir daquela data
Permaneceu pensativo,
Quem contemplasse seu rosto
Veria olhar emotivo,
De um poeta entristecido,
Sem receber lenitivo.
Foi a Senhor do Bonfim,
Morar na linda Bahia,
Perto de Jaguarari,
Lugar que nasceu um dia,
Porém nunca mais mostrou
Trabalhos de poesia.
No ano de oitenta e um,
Sua partida ocorreu.
Foi vinte e três de novembro
Quando a notícia se deu,
Que o mestre deixando o corpo,
Nossa cultura perdeu.
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O poeta garimpeiro
Não achou ouro no mundo,
Porém na arte poética
Manteve estilo profundo;
E mesmo triste não teve,
Um sentimento iracundo.
Este homem tão sensível
Precisa ser relembrado,
Por ter feito o bom cordel
No Sudeste divulgado,
Merece em todo o Brasil
Ficar imortalizado.
Seu coração generoso,
Deixou bastante saudade.
Cada pessoa que teve
Com Teodoro, amizade,
Relembra do cordelista:
Um sol de fraternidade.
Finalizo esta homenagem
De maneira especial,
Dizendo que Antônio foi
Romancista genial:
Uma estrela do cordel
Com trabalho atemporal.
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E-mail do autor: marcianobm@yahoo.com.br