CORDEL – Mote – Aqui na zona da mata – A chuva já começou
 
 
Faz tempo que eu não produzo um cordel em décimas com sete silabas poéticas Hoje, em face de ter caído alguma chuva aqui na zona da mata, que poderá ser o início do inverno (nesta região a época das chuvas é justamente de março pra frente, tanto que se planta o milho e o feijão no dia de São José, quando das primeiras águas). Há muita gente no nordeste relembrando os tempos da indústria da seca, que ainda não acabou; começa a fazer muita zoada, dando ainda mais tristeza ao nosso povo, que desanima, mas a intenção que vem na frente é conseguir favores e benesses do governo federal, tais como “perdão de dívidas”, “prorrogação de contratos”, “redução de juros”, “frentes de trabalho”, “carros pipa” e muitas outras. O que se gastou nas construções das “Arenas” de futebol seria suficiente para colocar água nos mais distantes rincões deste nordeste. E o que os bancos financiaram para formação de aguadas poderia ter feito desta região um novo oceano. Quando eu era gente, e isso já faz tempo, indeferi um pedido de PROAGRO de uma autoridade estadual, mas o fiz consciente, eis que mandei um fiscal na propriedade e ele atestou uma belíssima quantidade de milho armazenada nos seus silos. Lembro-me que o Estado estava sem dinheiro para comprar as sementes e eu ofereci, cara a cara, ao governador, um financiamento para a aquisição daqueles insumos ao produtor, todavia o líquido da operação seria para liquidar o empréstimo agrícola do cidadão vendedor. Ele desistiu da venda. Alguns anos depois, recebi um telefonema de um ex-chefe do setor de operações do banco dizendo-me que o BACEN havia concordado com um recurso e despachado a liquidação da conta. Pretendo causar polêmica com o tema.
 
 
MOTE – Aqui na zona da mata – A chuva já começou – 15.04.2013
 

 
Rimas em ABBAACCDDC
Décima de sete versos poéticos
Elisão optativa
Interações à vontade
 
 
 
A chuva deste nordeste
Sempre que foi diferente
Aqui o ano todo é quente
Quente tal qual uma peste
Daí quando o sol investe
Causando tamanha dor
Provocando muito horror
Que vem assim em cascata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
Diferente lá do sul
Terra de quatro estações
Aprendemos as lições
Nosso céu é sempre azul
Não temos mais o Paul (¹)
Plantamos com muito amor
Com garra e destemor 
Jamais falo com bravata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
Geralmente aqui se planta
No dia de São José
Pra se ter milho a grané (²)
E a cultura se levanta
Aos nossos olhos encanta
Com o nosso protetor
No meio muito impostor
Muita gente não se cata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
Em junho já tem produto
Feijão novo e milho bom
O verde é que dá o tom
Aqui no nosso reduto
De nosso Deus absoluto
Como é grande o Criador!
Do mundo transformador
Quando ele quer nada empata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
No consórcio do plantio
Tem também o algodão
Seja agreste ou no sertão
Quando produz, arrepio,
É quando eu desconfio
Da indústria, um terror,
Do matuto sofredor
A história nos relata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
Bem de lado a mandioca
Pro gado e pra farinha
Nesta terra que é só minha
Como é boa a tapioca
Terra fofa não se soca
Pra não subir o calor
Só trabalho meu senhor
Pois nós não temos mamata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
Quando a lavoura segura
Vem o lucro garantido
Plantador fica envolvido
E muda a sua postura
Esquece toda amargura
Como bom agricultor
Do sul logo retornou
Sua família pacata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
O dinheiro do governo
Que sempre é desviado
Não chega ao pobre coitado
Nesse crime que é eterno
Que o ladrão de caderno
No roubo se aprimorou
No crime se efetivou
Pois o país democrata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
Certa vez eu indeferi
Um pedido do PROAGRO (³)
Dum cliente muito magro
Nesse tempo eu bem sofri
 Grande sufoco vivi
Um senhor aristocrata
Embora usando alpercata
 Paiol de milho esborrou
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
O PROAGRO é um seguro
Que protege a plantação
Pagando indenização
Com o cliente em apuro
Não fica em cima do muro
Só ganha quem o contrata
Uma despesa barata
Paga pelo plantador
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
O sujeito ficou bravo
Era grande autoridade
Benquisto em sua cidade
Dos outros fazia escravo
Quando o vejo eu logo travo
Um cara enrolador
Que a conta não pagou
Mas parecia um ginasta
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
Pediu ao Banco Central
Que liquidasse seu débito
Aquilo foi algo inédito
Na prática desse mal
Numa atitude infernal
A conta logo pagou
Mas ninguém então gritou
Atendeu sua cantata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
Com o dinheiro do povo
O BACEN fez carnaval
Num governo sem igual
E o fará sempre de novo
Colombo em pé pôs um ovo
Que o mundo inteiro vibrou
Da novidade gostou
Cabia até carreata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
No lugar de criar bode
Põe-se o gado de leite
Não se há como aproveite
Isso é crime não se pode
Gente segura o bigode
Quer ser grande criador
O gado não prosperou
Parece levou chibata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
Mas o seguro só paga
Se a safra for frustrada
Não vale alguma enrolada
Mas no Brasil isso é chaga
Pra cada honesto uma vaga
Triste quem não aproveitou
De bolso vazio ficou
Mas o passado resgata
AQUI NA ZONA DA MATA
A CHUVA JÁ COMEÇOU
 
Fico por aqui porque esse assunto é interminável.
 
(¹) – Pântano
(²) – Demasia
(³) – Programa de Garantia da Atividade Agrícola
Agradecimentos ao grande mestre Jerson Brito.
 
Em revisão
 
Ansilgus
ansilgus
Enviado por ansilgus em 20/04/2013
Reeditado em 06/05/2013
Código do texto: T4250124
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.