Publico a seguir mais um cordel em parceria com os recantistas Ansilgus e Edilson Biol. O mote e as regras foram propostos por Ansilgus e cada parceiro elaborou seis estrofes com oitavas de sete sílabas poéticas com rimas no formato ABABCDCD:

Mote: Quem gosta de comer coco/ Fica com cara de quenga


Versos de Edmilton Torres


I

Gosto muito de cocada

De coco na tapioca

Coco na bacalhoada

No beiju de mandioca

Tô me fazendo de moco

Para essa lengalenga

Quem gosta de comer coco

Fica com cara de quenga

 

II

Dancei coco no nordeste

Pois coco também é dança

Por causa d’um cafajeste

Eu entrei numa imbuança

Só precisei de um soco

Para encerrar a pendenga

Quem gosta de comer coco

Fica com cara de quenga

 

III

Comer coco todo dia

Deixa o cabra empanzinado

Com bucho inchado e azia

Colesterol elevado

Solta peido, arrota choco

E fica meio molenga

Quem gosta de comer coco

Fica com cara de quenga

IV

Eu conheci um maluco

Que veio do estrangeiro

Ao chegar a Pernambuco

Tentou subir num coqueiro

Pra ver se o coco era oco

Mas desceu todo capenga

Quem gosta de comer coco

Fica com cara de quenga

 

V

Água de coco gostosa

Tomei em Boa Viagem

Com muita mulher formosa

Ali naquela paisagem

Encontrei um cabra broco

Doidinho por uma arenga

Quem gosta de comer coco

Fica com cara de quenga

 

VI

Seu José agricultor

Planta coco em seu roçado

Ele não possui trator

Junta de boi ou arado

Limpa mato e arranca toco

Com chibanca e estrovenga

Mas de tanto plantar coco

Ficou com cara de quenga

 

Edmilton Torres


Versos do Edilson Biol

Um dia eu fui à feira

 Num dia de feriado

Não tinha nem macaxeira

Alface tinha murchado

O ovo estava choco

A puba tava molenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

Já estava frio o pastel

O suco tinha esquentado

O cantador de cordel

Até perdeu seu rimado

Cantava assim meio rouco

Aquele seu lengalenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

Não tinha caldo de cana

Não comprei abacaxi

Acredite! Nem banana

Abobrinha ou caxi

O andú já tava pouco

Na banca do Alvarenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

Eu não achei rapadura

E nem mesmo requeijão

Daquela caninha pura

Só tinha mesmo o galão

O meu bucho tava oco

E a perna meio capenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

Pensa que tinha maxixe?

Nem unzinho pra remédio

Minha mulé falou: Vixe,

Que farta de privilégio!

Passei o maior sufoco

Não resolvi a pendenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

O motivo disso tudo

Que aqui eu to contano

É o desejo absurdo

Desse poeta baiano

Que gosta de comer coco

No almoço e no jantar

E se algo o deixa louco

É querer coco e não achar.

 

Edilson Biol



 Versos do Ansilgus



Gente que mote danado

Botaram pra me lascar

Eu que vivo enferrujado

Vou querer logo apelar

Não que queira dar soco

Pois na certa sou derrenga (¹)

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

O coco é um alimento

Muito forte em vitamina

Faz-se bolo sem fermento

E ninguém se contamina

O tronco do pé não é oco

Nele transita a catenga (²)

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

Lá na praia tenho vinte

Pés de coco safrejando

Mas o ladrão com acinte

Aos poucos me vai roubando

O nome dele é Tinoco

Que corta com caxarenga (³)

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

É um pobre dum coitado

Que dele até me dá pena

Mais um desqualificado

Que faz parte dessa arena

Por vez tem cara de louco

Prefere comer da senga (4)

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

Eu conheci dois cantores

Que eram também humoristas

Merecem nossos louvores

Por serem grandes artistas

Mas louvar pode ser pouco

Ao Ranchinho e Alvarenga

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

No Maranhão eles usam

Um tambor especial

Na dança os pares cruzam

Brincadeira sem igual

Antigo tal qual barroco

Cujo nome é pererenga (5)

QUEM GOSTA DE COMER COCO

FICA COM CARA DE QUENGA

 

(¹) – Pessoa cheia de lábia.

(²) – Espécie de lagartixa.

(³) – Faca velha, cega, sem cabo.

(4) – Restos, migalhas, sobras.

(5) – Espécie de tambor usado no Maranhão.

 

Ansilgus

Publico a seguir interação do poeta João Corin abrilhantando a nossa parceria:


Sou um baiano arretado
Que vive criando lenda
Não ando muito aprumado
Também não ando capenga
Não sou certinho nem louco
Mas sei que quem come coco
Fica com cara de quenga

João Corin

Edmilton Torres, Edilson Biol e Ansilgus
Enviado por Edmilton Torres em 09/04/2013
Reeditado em 14/04/2013
Código do texto: T4232577
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