trieto do toro xonado
TOURO APAIXONADO
Jorge Linhaça
Foi lá no Barretão
rodeio bão di danado
poeira subinu do chão
os peão ovacionado
inté que entrou em ação
o tal touro apaixonado.
O peão estava no brete
montado no bicho fogoso
as Maria só no flerte
do cabra tão musculoso
o touro pulou pra frente
para delírio do povo
Peão montado no lombo
touro a girar pros dois lado
foi ai que veio o tombo
o peão na areia jogado
a sua carne expondo
para os chifre afiados
O touro numa investida
arremeteu no peão
( minha senhora Aparecida!)
exclamou a multidão
temendo pela vida
do cowboy Zé Romão
Mas o touro para espanto
do peão apavorado
e de tudo que é santo
ficou em cima dele parado
parecia inté encanto
que alguém tinha lançado
e prá incurtá a história
o tal touro afamado
comemorou a vitória
de um jeito inusitado
-Vixe..nossa sinhora-
pelo peão, apaixonado
tascou-lhe uma lambida
do queixo até a testa
parecia muié perdida
o tal touro da mulesta
nunca vi disso na vida
antes de ir naquela festa
A galera embascada
os paiço alí sem ação
e a "toura" apaixonada
ali lambendo o peão
as breteira inciumada
era só desolação
e num é qui o tal peão
num se feiz de rogado
foi tomado pela paixão
e ficou enamorado
e lá se foi o Zé Romão
com seu touro apaixonado
O finár nem vo contá
mó di as moça num ofendê
mais vancês podi imaginá
o que havera di acontecê
Peão e Touro a namorá
apaixonados como o quê.
* * *
VACA TRAÍDA
Lêda Mello
Pois eu tava nu rodêi
Quandu u fatu cunteceu!
Foi um tár di sai du mêi,
Us pôvu tudim correu
Nu maió dus aperrêi,
Fez barúio, si benzeu.
Foi nu mêi da cunfuzão
Qui as coiza apiorô.
Lá vem qui nem furacão,
Pé nu aceleradô,
A muié du boi-olão
Pra tumá as sua dô.
U coitadu du pião
Entri a cruiz i a ispada
Num querendu u boi-olão
Arriscava uma chifrada
I si quizéssi u fujão
Era da vaca, as lapada.
Ela inxô u ispinhaçu
Cum us ôio amiaçô
Defendendu u seu pedaçu,
Ciscô u chão, ispumô,
Im riba dus dois paiáçu.
Foi quandu u guarda xegô.
Cunsiguiu laçá a vaca,
Saiu puxandu pra fora,
Ela, na maió ressaca,
Num quiria í simbóra
Berrava qui neim catraca:
"perdi meu machu agora!"
Cum essa históra di machu,
Cuma vê, tava inganada,
Ele tava era di cacho
Cum u pião da vaquejada.
Boi-ola, o cara ti tachu,
Di machu num tinha nada!
Dispois dus cauzu pensadu,
Foi muntu mió pra vaca.
Foi-se u dismunhecadu,
Livrou-si da urucubaca
Dum maridu disfarçadu
Qui mais paricia vaca.
U finá dessa históra,
Lá im riba tá contada.
Ninguém sábi mais, agora,
Im qui deu a boi-olada.
Ieu já tô caindu fóra
Num vô tistimunhá nada!
* * *
Im defesa do boi_olão
Tere das Bêra Mar
Tá certo que eu num divia
entrá nessa cunfusão
mai vê o boi caluniado
corta aqui meu coração
inté me lembro seu nome
que chamava Lubisomi
e era um toro garanhão.
Eu cunhici essa fera
na mia terra lá distante
era macho pa caramba
lhe invejava inté os ginete
mai a vida tem suas curva
tem hora que a água turva
que a pessoa chora e sente.
Lembro cumo fosse hoji
foi na Fapi lá de Orinho
ele inda era bem moço
galanteadô, facerinho
num dava conta das gaja
que no brete lhe agarrava
quereno sinti o cherinho.
Mai troxe naquele dia
um tropero marfadado
a sua vaca maiada
que era parti do seu gado
só que ele num sabia
que a sua vaca fugia
de noite nos arrebardo.
Ela saiu disvairada
procurano baia boa
incontrô o Lubisomi
cuchilano meio à toa
tava cansado da lida
e aquela vaca fugida
num pareceu coisa boa.
Rejeitô bulinação
decretô sua sentença
pois o que eli num sabia
siqué disso tinha crença
a vaca era uma cigana
que já foi mula ruana
co demônio a parecença.
Ali memo em sua frenti
cum força lhe praguejô
tu nunca mai vai prová
do prato que rejeitô
vai só cumeno e bebeno
os homi tudo lambeno
mai o trem pro cê acabô!
Naquele momento insano
Lubisomi arripiô
sem sabê o que fazê
na praga ele acriditô
a vaca saiu si rino
foi dá lá pro seu vizinho
que o boi inté iscuitô.
Mai de lá pra cá seu moço
Lubisomi se acabô
im tuda suas tentativa
ele só memo broxô
aquele toro afamado
virô um boi_ola de gado
im Orinho nunca vortô.
Mai vô lhe contá o que sei
diz lá a premunição
que se ele topá um dia
cum argum otro garanhão
já na primera lambida
terá curado a firida
que acabô cum seus culhão.
Pur isso lambe direto
o que incontra no caminho
seja homi ou seja boi
inté muié de vizinho
mai num é boiolice não
ele percura a poção
que mudará seu distino.
Pur isso num ria moço
cada um tem sua sina
a do Lubisomi é tristi
pur rejeitá uma minina
que era vaca na verdadi
mai sua grandi mardade
inté hoje mi abumina.
Santos, 22.03.2007
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