EU CANTO IGUAL À DALINHA

(Resposta ao poema DEU SAUDADE DE REPENTE da poetisa Dalinha Catunda, publicado em sua coluna EU ACHO É POUCO, do Jornal da Besta Fubana, no dia 05 de maio de 2012).

DEU SAUDADE DE REPENTE

Dalinha Catunda - DC

EU CANTO IGUAL A DALINHA

Ismael Gaião - IG

DC - Lembro-me dos belos dias

Tão repletos de alegrias

Onde as velhas cantorias

Encantavam meu rincão.

Com jeitinho de repente

Eu revivo no presente

Este canto absorvente

Nos oito pés a quadrão.

IG - Cantorias de viola

Que me serviram de escola.

Botaram em minha cachola

Versos de voltar mourão.

Onde eu ficava encantado

Passando a noite acordado

Ouvindo um mourão voltado

Nos oito pés a quadrão.

DC - Gostava da brincadeira

De pegar numa peixeira

E descascar macaxeira

Pras bandas do meu sertão

Porém minha realidade,

Residindo na cidade

É matar minha saudade

Nos oito pés a quadrão.

IG - Eu tive vida bacana,

Bebendo e chupando cana

E à noite gastando grana

Para escutar um baião.

Sou um dos apologistas

Que admira os repentistas

E considera uns artistas

Nos oito pés a quadrão.

DC - Morando na minha oca,

Descascava a mandioca

Para fazer tapioca

Naqueles tempos de então

Depois deitava na rede

Tacava o pé na parede

Hoje mato minha sede

Nos oito pés a quadrão.

IG - Na vida do interior

De dia fui plantador,

De noite admirador

De uma improvisação.

Morando na capital

Vivo me sentido mal

Por não ter um festival

Com oito pés a quadrão.

DC - O rádio eu sempre ligava

Quando a aurora raiava,

E cantando acompanhava

O canto do Gonzagão.

Nosso bom cabra da peste,

O rei caboclo do agreste

E que já cantou o Nordeste

Nos oito pés a quadrão.

IG - Com galinhas num poleiro,

Pato e gansos no terreiro,

No terraço um candeeiro

Fui feliz no meu sertão.

Estudei numa cartilha,

No São João brinquei quadrilha

E ouvi num rádio de pilha

Nos oito pés a quadrão.

DC - Sei que não sou repentista,

Porém vou seguindo a pista

Sem baixar a minha crista

Sem ter medo de esporão.

Eu gosto de versejar

E não importa o lugar

Mas você vai me escutar

Nos oito pés a quadrão.

IG - Não sou bom no improviso,

Porém agora lhe aviso

Que tenho um verso preciso

Quando escrevo num borrão.

Nunca fico na berlinda,

Porque meu verso não finda

E fica melhor ainda

Nos oito pés a quadrão.

DC - Isto é canto de mulher

Que vai metendo a colher

E como quem nada quer

Na cumbuca mete a mão.

De lá tira agulha e linha

Não dá nó nem desalinha

Pois é canto de Dalinha

Nos oito pés a quadrão.

IG - Mesmo estando na cidade

Meu canto tem qualidade

Para matar a saudade

Que eu sinto lá do torrão.

Lembrando minha terrinha,

Meu potro e minha vaquinha

Eu canto igual à Dalinha

Nos oito pés a quadrão.