CORDEL – Mote – A seca matou seu milho – Na mata, agreste e sertão.
Boa tarde pessoal do Recanto das Letras. Meu pai, que está em quarentena, tem uma série de trabalhos pronta para publicar em sua escrivaninha. A propósito de fenômenos climáticos como a seca, que é um problema recorrente de mais de 500 anos, ele é um revoltado. Peguei esse cordel que ele havia feito desde fevereiro passado e com sua permissão o estou publicando para apreciação de seus leitores e parceiros. Mais uma vez o pobre do nordestino está sofrendo com o fenômeno das secas. Muitos cordelistas já se ocuparam de elaborar trabalhos sobre esse acontecimento triste e humilhante, todavia nunca encontram uma solução rápida para o flagelo que se abate na região todas as vezes que é assolada. Então, qualquer verso que se queira produzir aqui neste cordel decerto já o fora feito por outros poetas, embora cada qual a seu modo.
CORDEL – Mote – A seca matou seu milho/Na mata, agreste e sertão.
Oitavas de sete sílabas poéticas
Esquema de rimas ABABCDCD
Data – 12.02.2013
Elisão optativa
Mais uma vez o nordeste
Deste povo de valor
Chamado cabra da peste
Com todo seu esplendor
Que nunca perde seu brilho
Nem a sua educação
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
Por onde andam os políticos
Que nada resolvem não
Não dão bola nem aos críticos
Dessa nossa região
O pobre vira andarilho
Sem um pedaço de pão
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
Do governo nem se fala
O São Francisco a zombar
Porém prefere o “trem bala”
Melhor do que irrigar
Então só fica empecilho
Todos de pires na mão
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
Com trinta por cento prontos
A sua transposição
Já bancou muitos encontros
Até de inauguração
Não vingou qualquer bubilho
Pois dominou o verão
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
Quanto mais o pobre sofre
Mais o governo se afasta
Guarda o dinheiro no cofre
Junta até dizer um basta
Medida de afogadilho
Ministro de prontidão
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
Outra bela safadeza
“Que vicia o cidadão”
Essa esmola com certeza
Tal qual bolsa de ladrão
Melhor puxar o gatilho
Mandar pra baixo do chão
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
Não se queira culpar Deus
Por tanta falta de chuva
Isso são coisas pra ateus
Pois aqui também dá uva
Não estou com trocadilho
Acabou-se o São João
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
Nem assado nem pamonha
Nem canjica nem quentão
Nessa falta de vergonha
Acabou-se a tradição
Versos que são estribilho
De tanta repetição
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
O que dizer da quadrilha
A dança da ocasião
Pois entramos na armadilha
Quadrilha só de ladrão
Mau exemplo pro meus filhos
Que querem educação
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
A Copa está chegando
Os olímpicos também
O país é só gastando
Para bancar esse trem
Nós só temos bigorrilho
A mamar nossa nação
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
De gritar já não aguento
Uma voz de coração
Eu clamo pelo sustento
Do povo por compaixão
Cujas calças com fundilho
Em qualquer ocasião
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
O Ministério Público
Precisa examinar
Esse assunto que é lúdico
Safadeza vai pegar
Pois tem rico que é caudilho
Também muito sabichão
A seca matou seu milho
Na mata, agreste e sertão.
Estou cansado, confesso,
Não gosto de sacanagem
Dos nervos vou ter acesso
Isso tudo é vadiagem
E nem sequer um novilho
O pobre tem de plantão
A seca matou o milho
Na mata, agreste e sertão.
Fonte da foto: Internet – Blog do Sargento Prates. Em havendo direitos autorais queira, por favor, me dizer, pois aqui nós produzimos versos sem ganhar dinheiro, mas só por amor. Terei o máximo prazer em retirá-la, pode ter certeza disso.
Ansilgus/Georgegus