CIGANICE
Dê-me cá a sua mão
Disse-me a cigana um dia
Pegou-me na contramão
Parece até que sabia
Que eu andava desconfiado
De um sujeito bem folgado
Que passava e me sorria.
Você é homem de sorte
Não carece de sofrer
Mas há um caso de morte
Que vai lhe aborrecer
Será muito desagrado
Ver o sol nascer quadrado
Mas é assim que vai ser.
Assustei com a conversa
Ela disse: - não tem jeito,
Há um poeta que versa
Para a musa sem respeito
Que nunca diz a verdade
Curte a infidelidade
Dorme com ele em seu leito.
Subiu o sangue na hora
Entendi o seu recado
Pensei comigo; é agora!
Vou pegar o desgraçado
Esperei e um belo dia
Vi ele com a vadia
Um trepando outro trepado.
Fiz justiça com as mãos
Hoje pago caro a pena
Mas não levo chifres vãos
Acabei com Madalena
E o tal galã poeta
Foi morto pela dileta
A cigana Açucena.
Ela viúva eu também
Sorte dela e sorte minha
Quando eu não vou ela vem
Traz-me a paz que eu já não tinha
Seu ex era um traidor
Traiu-nos com minha “flor”
Traidora e daninha.