SOU TINHOSO NAS RIMAS X CORINGA

Seja bem vindo poeta

à essa nossa brincadeira,

sei que é bala certeira

mas eu sou alvo difícil;

na casa ou no edifício,

na estrada ou avenida

não vejo bala perdida

que me possa alcançar

nem mesmo endereçada

que eu não possa desviar.

Se quer ver de perto o diabo

que não pise no seu rabo

e nem toque no seu chifle

daí nem bala de rifle

vai poder lhe ajudar,

porque vai sair faisca;

tubarão nunca foi isca

nem bicho de estimação

que se leve na coleira

e venha comer na mão.

Lhe garanto meu amigo,

se olho pro meu umbigo

cada um olha pro seu,

eu falo o que é verdade

e nunca pela metade,

"nem Marília nem Dirceu,"

eu falo aquilo que faço,

sem ter nó nem embaraço;

em cobra já dei rasteira

rimar pra mim é besteira.

A sua estrela azulada

é melhor ficar calada

e esquecer de profecia;

falar demais é mania

de quem pensa estar sozinho,

se eu ciscar no seu ninho

vou encontrar ele vazio,

amigo, não perca o brio,

reconheço seu talento,

mas agora fique atento,

eu não voltei por brincadeira

Se lhe dei a dianteira,

foi porque tive a coragem

de lhe deixar levar vantagem

pra depois lhe dar poeira;

não cantei a vida inteira

pra entrar em retrocesso,

já nasci fazendo verso,

me criei fazendo rima

e pra ser mesmo bem franco,

se por baixo ou se por cima

vai tudo no mesmo tranco.

De paixão eu bem conheço

ela sabe o enderêço

da alma e do coração,

paixão pra mim é mania;

pra Dolores ou Maria

tenho sempre uma poesia,

um verso, um samba canção,

um bolero, uma modinha;

eu não me faço de rogado,

sou poeta apaixonado,

de atestado e carteirinha.

Poeta tome juízo!

é melhor ler o aviso

que deixei na entrelinha:

Guarde o facão na bainha,

revolver na cartucheira,

o fuzil em bandoleira

e erga as mãos para o céu

pra não atirar atôa,

se furar sua canoa,

sua praia está distânte

vai virar násufrago errânte

nesse mar nadando ao léu.

Voltei como o diabo gosta,

pra bancar qualquer aposta

que vier pintar no jogo,

eu vou da fagulha ao fogo,

e não bebo água em moringa,

nem vejo nenhum "CORINGA"

que se encaixe em meu baralho,

eu chego, entro e me espalho,

e como escrevo com afinco,

é o meu só contra seus cinco