PRENÚNCIO DE SECA
Um vento rasteiro
Fumaça cinzenta
A terra esquenta
Mais em fevereiro
O sertão inteiro
Inteiro torrado
O povo escaldado
O sol inclemente
Tá limpo o nascente
Limpo e estrelado
Nadinha de chuva
Calor, que mormaço!
Partimos pra Março
O vento assoprando
O ano passando
Mais uma estação
Sem água no chão
Ta tudo perdido
Que povo sofrido
Esse do sertao!
Carcaças de gado
Nas encruzilhadas
As outras deitadas
Logo vão morrer
Vidas a perder
No vale da morte
Não há quem suporte
Toda essa secura
Pois falta estrutura
Ao povo do norte*
O tempo não muda
Seco permanece
E Março amanhece
Como Fevereiro
Seco o ano inteiro
Sertanejo chora
A fé evapora
O vento a levou
O quê lhe restou?
Nadinha, agora!
Portanto, é triste!
Tamanha tristeza
A mãe natureza
Nos abandonou
No chão não pingou
Tudo empoeirado
Morreu todo gado
Só se ver carcaça
Espero uma graça
Abril ser molhado...