Agonia
Agonia
...Ainda criança que lembranças!...
... Conheci um Rio...
Não um famoso, orgulhoso e midiático... Mas um Rio.
De leito de pedras e areias, alvas areia, percorrendo serras e vales exuberantes; sinuoso... De águas cristalinas, límpidas...
Piscoso!
Vibrante nas quedas, veloz nas corredeiras e borbulhante nas cachoeiras...
Caudaloso!
Sua força movia gigantes rodas d’água... Moinhos trituravam grãos; energia produzia.
Barrancos, relvas, florestas... Árvores às margens, viviam, floresciam...
Que alegria!
Brancas garças esbeltas e graciosas a desfilarem com garbo e...
Maestria!
Capivaras de pêlos lustrosos, marrecos espertos, patos d’água coloridos,
Nadavam!
Libertas e ariscas lontras corriam e...
Roíam!
Festa ruidosa que a natureza...
Produzia!
Das margens dos altos barrancos, aventureiros corajosos saltavam para um mergulho nos remansos...
Nadavam!
Sobre as pedras das margens, lavadeiras, sabão às mãos, roupas batiam, lavavam...
Tagarelavam!
Crianças peraltas... Nuas, peladas... Brincavam, mergulhavam, faziam “pegas”...
Nadavam!
Outros almoços procuravam... Pescavam!...Tarrafas, anzóis, iscas (minhocas)... Lambaris, piaus, carás... Armadilhas... Pitus...
Armavam!
Rio Guandu!
... Jovem adolescente ainda!
Que saudades...
Revi um Rio...
Fragilizado, debilitado, sufocado... Mas ainda um Rio!
De leito com vísceras à vista... Secas pedras, sujas areias, filete sinuoso de água, expostos ao inclemente sol.
Com águas barrentas onde flutuam dejetos; lentas a correr em direção ao Rio Doce... Sua foz, sua finitude, sua tristeza...
Pescaria... Peixes morosos, cansados, opacos lutando pela vida, para superar,
Obstáculos... Cachoeiras, corredeiras, quedas... Poucas... Que maldade!
Desbarrancado, assoreado, raso... Relvas, florestas, árvores...
Agonizavam!
Onde as brancas garças? Onde as capivaras de brilhantes pêlos?
Onde os marrecos e os graciosos patos d’água, o nosso pé de ingá?
Onde estavam!
Ninguém a mergulhar, a nadar nus em suas águas, lavadeiras a roupa lavar,
Os anzóis os peixes a fisgar!
Crianças peraltas antes alegres, agora tristes...
Choravam!
Rio Guandu,
Humilhado, indignado... Antes belo... Clama!
... No outono da minha vida!
Somente belas recordações...
Vejo um... Córrego! Um filete d’água... Secura, aridez.. .Barro, lama...Lixo!
Mas... Ainda um Rio?
Poluição! Mal cheiroso esgoto... A se arrastar... Moroso... Morto?
Horroroso!
Agonizante, entretanto ainda esperançoso,
A gemer... Grita com as forças que lhe restam:
Oláaa! Ei! Sou eu... Um antigo e belo Rio!
BNandú 06/12/2009 Revisado em 28/02/2013