LEMBRANDO DO MEU LUGAR.

Eu vou a cidade serrana

Passear sob a garoa

Suiça pernambucana

Terra linda de Simôa

Vou me embrenhar no tabuleiro

Vou pra lá sentir o cheiro

Do almoço feito na feira

Vou tomar vinho de jurubeba

Com tira gosto de um peba

Lá na rua da madeira.

Vou passar no Colunata

Pra rever Prêto Limão

Versando na hora exata

Bom na improvisação

Deixo que os sonhos e as visões

Façam suas transformações

E no meu pensamento embarque

Quando eu estiver escutando

As cigarras todas cantando

Nus eucalípitos do parque.

Vou achar coisas perdidas

Vou concertar os quebrados

Lembrar coisas esquecidas

Adiantar os atrasados

Porque na vida tudo tem jeito

È só arrumar direito

Já dizia o sábio famoso

Consertando guarda chuva

Esses versos cabem como uma luva

Ao inesquecível Jeitoso.

Vou subir o monte Sinai

E ver em baixo o agreste

Da minha memória não sai

A beleza que lhe veste

Lá em cima terei a visão

Do castelo de João Capão

Com súdito e soberano

Depois me encolherei de frio

Quando o vento fizer assobio

No alto lá do magano.

Vou ouvir o estrondo do trovão

E ver a neblina cerrada

O curisco descer ao chão

Nas noites de trovoada

Vendo a chuva que tudo alcança

Mais que boa lembrança

Dessa natureza artista

Que com arte vem fazendo

A enxurrada descendo

As ladeiras da Boa Vista.

Vou ver os caminhões carregados

De sacos cheios de carvão

Com os ajudantes cansados

Gritando pra população

Vou colher o alface na horta

Ver o vendedor de porta em porta

Vendendo manga e goiaba

E na calçada de passeio

Tem burro com o caçoá cheio

Vendendo jabuticaba.

Vou descançar sentino o cheiro

Que ao meu prazer eu somo

Com o perfume verdadeiro

Das flôres lá do Pau Pombo

Lugar repleto de encanto

De lá se ouve o canto

Dos mais ardentes amores

Onde o vento passa cantando

Com as horas floridas marcando

O tempo no relógio de flôres.

Escrevendo sinto saudades

Do berço onde nasci

Não é como outras cidades

Por onde eu percorri

Lá deixei minha infância vagando

Nus calçamentos brincando

Com bola, ponteira e pião

Mais ainda trago o menino arteiro

Subindo no abacateiro

No quintal da recordação.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 02/02/2013
Reeditado em 22/03/2013
Código do texto: T4118689
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