A SECA.


 
FOI EMBORA O NOSSO INVERNO
HOJE A MÃO DO PAI ETERNO
ABRE O PORTÃO DO INFERNO
PRA DÁ LIBERDADE A SECA.
A SECA NOS ATORMENTA
A SECA É TÃO VIOLENTA
QUE O NOME DA NOJENTA
SÓ RIMA COM ENXAQUECA.
 
VOLTA TRISTE UM PASSARINHO
SEM O JANTAR PRA SEU NINHO
VAQUEIRO ABOIA BAIXINHO
NO FIM DO ENTARDECER.
O GARI DO FIRMAMENTO
MONTADO NUM PÉ-DE-VENTO
LIMPA A CAMA DO RELENTO
PRA LUA BRANCA NASCER.
 
QUANDO O INVERNO SE AUSENTA
O POVO SE DESCONTENTA
AO VER A SECA NOJENTA
FAZENDO A TRANSFORMAÇÃO.
O NORDESTE DESNORTEADO
E O SOL AVERMELHADO
COM SEU ESPELHO DOURADO
REFLETE A DEVASTAÇÃO.
 
 OH! QUE SAUDADE DANADA
DE UMA BOA TROVOADA
ESCUTANDO A GARGALHADA
DO TROVÃO NO PÉ DA SERRA.
O MEU SERTÃO TÁ AFLITO
SEM OUVIR DO INFINITO
AQUELE SOM TÃO BONITO
DA CHUVA BEIJANDO A TERRA.