O chapéu, o machado e a cabaça/são as armas do homem do sertão

Mote de José Lourinaldo

JH

O açude já secou a sua lama

A cacimba foi cavada no riacho

Mesmo assim esse sertanejo macho

Não se abala, jamais, com o seu drama

Reza a Deus, todo dia, pede, reclama

Um inverno com fartura de montão

Prá poder não sair do seu rincão

Pois é lá que em tudo ele ver graça

O chapéu, o machado e a cabaça

São as armas do homem do sertão

JL

À tardinha quando volta do roçado

O matuto enfadado do sol quente,

Já cansado, ele senta no batente

Procurando uma nuvem pra todo lado.

Mas não vê, sequer, um só riscado

Uma promessa pra manter sua ilusão,

Sem saber o que fazer com a criação

Que o futuro só tem cheiro de desgraça,

O chapéu, o machado e a cabaça

São as armas do homem do sertão.

JH

Numa boca de noite muito quente

Se debruça no batente da janela

Muito triste, vai segurando a tramela

E começa a olhar para o nascente

Logo ver uma luz que de repente

Acendendo e apagando faz clarão

É inverno, grita cheio de emoção

Corre, pega sua mulher beija e abraça

O chapéu, o machado e a cabaça

São as armas do homem do sertão

JL

A cabaça pra levar a água fria

O chapéu pra do sol se proteger,

O machado é seu lápis de escrever

E Jesus, é o seu maior guia.

Ele enfrenta a peleja do dia-a-dia,

Com os pés machucados e calos nas mãos,

Pra Maria ele faz a louvação

E ainda sofre do Ibama a ameaça

O chapéu, o machado e a cabaça

São as armas do homem do sertão.

JH

Passa a noite de pé, não vai deitar

Esperando a primeira trovoada

Quer ouvir logo o pai da coalhada

No lajedo da serra ecoar

Pela fresta da porta vai olhar

O relâmpago rasgando a escuridão

Vendo a chuva molhar o seu frontão

Toda dor, todo sofrimento passa

O chapéu, o machado e a cabaça

São as armas do homem do sertão

JL

O machado desta marca tramontina

A cabaça que cresceu lá no roçado,

O chapéu é de palha bem trançado

E a mulher uma cabocla lazarina.

O sertanejo vem cumprir a sua sina

De uma gente de humilde profissão,

A sofrer sem saber porque razão

Afoga a mágoa com um gole de cachaça

O chapéu, o machado e a cabaça

São as armas do homem do sertão.

JH

Não espera nem o quebrar da barra

Abre a porta e sai para o terreiro

As galinhas nem desceram do poleiro

Para o galo começar a sua farra

Numa poça de lama que esbarra

Pisa firme com muita satisfação

Tudo causa alegria ao coração

Pois a chuva tirou sua mordaça

O chapéu, o machado e a cabaça

São as armas do homem do sertão

Jhoracio e José Lourinaldo
Enviado por Jhoracio em 25/01/2013
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