UMA PROSA COM LUIZ GONZAGA.
Me deixe lhe perguntar
Da sua vida , sua paixão
Do lugar de onde veio
Da sua gente do seu chão
Da sua safona branca
Que tocou toda saga do sertão.
(Gonzaga).
Do lugar de onde vim
Eu falo com muito apreço
Nasci na fazenda Caiçara
Foi meu primeiro endereço
Povoado do araripe
Novo Exu é o meu berço.
(Gonzaga)
Vim ao mundo do sertão
No dia de santa Luzia
Por isso me chamo Luiz
Com prazer e alegria
Foi em dezembro de 1912
Que esse sertanejo nascia.
(Gonzaga)
Minha casa era de barro batido
Canto de humilde cenário
Eu fui menino da roça
Sem tostão e sem salário
Minha mãe se chamava Santana
Meu pai o velho Januário
(Eu)
O que o senhor tem na lambrança
Que da memória não sai
Lá das terras do Araripe
Onde o valente não caí
O que fazia em Exu
Pra ajudar o seu pai?
(Gonzaga)
Meu pai era um sertanejo forte
Conhecido em sua terra
Um tocador de primeira
Sua fama nunca encerra
E eu lhe ajudava com a safona
Nus forros de pé de serra.
(Eu)
E o que lhe fez ir embora
Da sua terra natal
Ficar longe da família
Do seu berço natural
Foi a seca rude cruel
Que mudou seu ideial?
(Gonzaga)
Na verdade o que me tirou de Exu
Bem choroso e descontente
Foi uma surrra que levei de minha mãe
Depois de tomar aguardente
Por ter comprado uma peixera
E ter me metido a valente.
(Gonzaga)
Aí parti rumo ao Crato
A revolta veio a tona
E sem nenhum tostão no bolso
Nada assim funciona
Pra puder chegar em Fortaleza
Eu vendi minha safona.
(Eu)
Sem safona e forro pra tocar
A vida deveria ser amarga
Ver seu povo dançando
Isso dinheiro não paga
Então o que fez da vida
Me conta aí seu Gonzaga?
(Gonzaga)
Eu era ainda muito moço
Caboclo forte e durão
Me alistei no exécito
No primeiro batalhão
Percorri muitos estados
Bem longe do meu torrão.
(Gonzaga)
Guando cheguei no Rio de Janeiro
Com a mala cheia de ilusão
Fui tocar músicas estrangeiras
Nus cabarés de então
Toquei valsas, toquei tangos
Nus programas de televisão.
(Gonzaga)
Mais não agradava ao o povo
Tocava sem o coração
Era preciso mostrar
As coisas do meu sertão
Então compus "vira e mexe"
E toquei fogo no salão.
(Eu)
Mais o senhor não parou por aí
Não lhe faltou inspiração
O que fez depois de "vira e mexe"
Qual foi a composição
Que fez o senhor representar
Todo o povo do sertão?
(Gonzaga)
Foi na metade dos anos de 40
Que o baião tomou destino
No vôo da "asa branca"
Se tornou um grande hino
Que conta a trajetória
Do imigrante nordestino.
(Eu)
E depois de tanto tempo
Nessa brilhosa missão
Não pensava na sua gente
Que deixou lá no sertão
Sem seu forro e sanfona
Sua vida e paixão?
(Gonzaga)
Àh, no sertão eu "olhei a terra ardendo"
Com a saudade que meu peito não arranca
Vai queimando "qual fogueira de são João"
Sob um ceu que se abre não se tranca
Vi expulsa "com tanta judiação"
Voando triste em despedida a asa branca.
(Gonzaga)
Não esqueço o fole de januário
Nem do "K de Karolina" brejeira
Do canto cego que entoa o "assum preto"
Nem da renda da mulher rendeira
Dos nascidos nus brejos da minha terra
Nas mãos de "samarica parteira"
(Eu)
Aqui termino essa prosa
Com saudades no coração
Obrigado Luiz Gonzaga
Por tanta recordação
Fica aqui minha homenagem
Ao nosso rei do sertão.
(Gonzaga)
Cantei e toquei de tudo
A minha missão foi honrada
Eu fiz "a triste partida"
Faço uma nova jornada
Mais aqui onde cheguei
Foi uma feliz chegada.
Eita saudades!!!