DOMINGUINHOS DO AGRESTE.
Nasceu na cidade serrana
Cidade hospitaleira
É filho do mestre Chicão
Um tocador de primeira
Já com seis anos de idade
Fazia apresentação na feira.
Tocava nus oito baixos
Nus hoteis e butiquins
Junto com os seus irmãos
Formaram um trio de mirins
Ficaram assim conhecidos
A banda dos três pinguins.
A harmonia dos sons
Lhe percorria a veia
Já então com oito anos
Com a cadência mais cheia
Tocava por alguns trocados
No hotel Tavares Correia.
O menino safoneiro
Tocava sem ilusão
Por ser tão talentoso
Chamou logo a atenção
De um sanfoneiro de Exu
Luiz o rei do baião.
Que escutando enxergou
Uma singeleza bonita
Do pequeno sanfoneiro
O rei então não hesita
"Se um dia ao Rio de Janeiro for
Me faça uma visita".
Gonzaga lhe deu o endereço
E partiu sem imaginar
Que um dia em sua casa
Dominguinhos pudesse chegar
Com matulão e safona
Pronto pra lhe visitar.
Saiu da cidade das flôres
Só com a coragem e a cara
Com a família inteira
Numa viagem bem cara
Partiram rumo ao Rio de Janeiro
Todos num pau de arara.
Luiz Gonzaga surpreso
Do convite ter resposta
Lembrou-se que um dia
Tinha feito uma proposta
Quando viu os três pinguins
Baterem em sua porta
O rei também nordestino
Lhe recebeu bem contente
Abrindo as portas do reino
Pra toda a sua gente
E com humildade lhe ofertou
Uma safona de presente.
E o garoto do agreste
Atravessando espinhos
Teria o nome mudado
Pra correr novos caminhos
Sem mais o nome "neném"
Gonzaga lhe batizou Dominguinhos
Assim seguiu a melodia da vida
Com seu talento e eficácia
E as notas do amor lhe tocou
Com paixão e com audácia
Ele "só queria um xodó"
Guando casou com Anastacia.
Em viagem ao Espírito Santo
Cumprindo novo destino
Com Borborema e Raimundinho
Foi tomando outro tino
Nasceu então outro grupo
Com o nome trio nordestino.
As comportas do sucesso se abriram
E jorraram águas de inspiração
Nesse artista do povo
Herdeiro do rei do baião
Que traz no canto a beleza
Da mata, agreste e sertão.
Veio do agreste frio
Terra que voa os anuns
Tocou e cantou para todos
E não somente para alguns
Tem sua raiz presa as serras
Nas terrras de Garanhuns.
Veio a fama e os famosos
Com ele no mesmo cordão
Fausto Nilo e Abel Silva
Parceiros de inspiração
Nando Cordel e Chico Buarque
Gonzaguinha e Gonzagão.
Outros sanfoneiro vinheram
Juntos no mesmo arraial
Camarão e Osvaldinho
Instrumentistas sem igual
Grandes mestres da safona
Sivuca e Hermeto Pascoal.
Assim é um pouco da história
Desse nobre menestrel
Ao Dominguinhos do agreste
Que a música é sempre fiel
Deixo a minha homenagem
Nesses versos de cordel.