CANDEEIROS.
Acendo o candeeiro com os versos
No lume da minha saudade
Meu vagalume de fogo
No meio da escuridão arde
Dá pouca luz mais clareia
O pouco espaço que invade.
A tarde vai cochilando
Caindo no colo da noite
Lá na casinha de taipa
O vento faz seu açoite
Nus vultos do candeeiro
Deixa que o mosquito se amoite
O candeeiro do ceu
È a lua alva de abril
Que a ventania não apaga
A chama de onde surgiu
Clareia o chão do terreiro
Sem querozene ou pavio.
Luiz Gonzaga o rei
Que tanta falta nus faz
Puxava o "fole" e cantava
Dizendo em tempos atraz
"Que apagaram o candeeiro
E derramaram o gaz".
Na sala todos escutam
Do caipira menestrel
Pintando Histórias com versos
Sem usar tinta ou pincel
No foco do candeeiro
Recita versos em cordel
Casa grande de extensos alpendres
Finas patroas, ricos fazendeiros
Moças fidalgas vestidas em sedas
Servem de musas para os seresteiros
Exibem o colo com pedras tão raras
Alumiadas pelos os candeeiros.
Candeeiros das roças das pobres taperas
Do fogão de lenha queimando o pirão
Da caça cheirosa em uma gamela
Da cama de vara fincada no chão
Candeeiro simples de bojo de lata
Fumaça escura pavio de algodão.
Linda morena sua no forró
Dançando xote com o seu vaqueiro
Traz no cabelo rubra margarida
E tem na pele a lã de carneiro
Mostra meiguice num riso bem claro
Na chama parda de um candeeiro.
Nus sobrados de azuleijos antigos
Arrudiados de altos coqueiros
Ao som de uma valsa se formam os pares
Com suas damas e cavalheiros
Riscam o chão com passos suaves
Por entre as chamas dos candeeiros.
Candeeiros dos enfermos e morimbundos
Que a vida em despedida exclama
Que a viola dessa vida desafina
Com um verso derradeiro sobre a cama
Solta a alma deixa o corpo em abandono
Já flameja o candeeiro última chama.
Candeeiros de todos os cenários
Feitos de cobre ou latão
Cuviteiros, lamparinas
Candelabros, lampião
Todos acenderam esses versos
Com a chama da inspiração.