Meu irmão esquecido
Meu irmão esquecido
Jorge Linhaça
O meu irmão esquecido
Afastou-se da memória
Em um tempo tão corrido
Apagou-se a sua história
Não conheço a sua face
Só o nome num papel
Vago nome, sem destaque,
Apartado do meu céu
Quanto tempo se passou
Sem que eu o visitasse
Quantas dores suportou,
Sem que eu me importasse.
Pode ser aquele irmão
Já entregue ao alcoolismo
À espera d’uma mão
Que o tire do abismo
Mas sou muito ocupado
Mal tenho tempo pra mim
Sou um homem “sem pecado”
Apartai-o pois de mim
Esta minha omissão
De buscar o desgarrado
Acredito ter perdão
Ando eu tão ocupado.
Tantos nomes numa lista
Que nem vi nem conheci
Sei das vidas dos artistas
E ao meu irmão esqueci
Pode ser que nem exista
Já mudou-se há muito tempo
Mero nome numa lista
Carregada pelo vento
Pode ser que lá esteja
Sem querer me receber
Entre latas de cerveja
E nada eu possa fazer
Pode ser que me espere
Aguardando um abraço
Por mais que peque ou erre
Desgastado de cansaço
Pode ser que me conheça
De algum outro lugar
E que quando eu apareça
Venha assim se alegrar
Mas ando tão ocupado
Tantas coisas pra fazer
Tenho também meu chamado
Não tenho tempo a perder
Caso ele apareça
Sei que vou me alegrar
Embora nem o conheça
E nem o vá visitar
Se pareço conhecido
É que sou o teu espelho
De minha glória imbuído,
Esquecido do evangelho.
Sou aquele que se importa
Com a própria salvação
Sem tempo de abrir a porta
Pra chegada de outro irmão.
Salvador, 13 de janeiro de 2013.