alguém concorda?

Respeito a Deus veemente

Mas do homem tenho medo

Pois não consigo entender

Tão pouco guardar segredo

A mente fez confusão

Perdi a concepção

Hoje de manhã bem cedo

Eu peguei certo jornal

Na boca da estação

Não vi uma propaganda

Com a foto dum negrao

Negra também era escassa

Eu acho que minha raça

Tem talento nenhum não

Depois liguei a TV

Numa rede de cultura

Comecei a perceber

A realidade dura

Que negro não é normal

Parece ser ilegal

Ou é um ser sem figura

Se tiver a pele branca

Pode ter a boca torta

Inchado igual um chuchu

Ou reta igual uma porta

Sem talento faz sucesso

Tem até quem paga ingresso

Para ver depois de morta

Fui apertando o controle

Para me certificar

Se era minha ilusão

Ou eu tava a delirar

E cheguei à conclusão

Nesse palco de ilusão

Só branco pode atuar

E se a vossa excelência

Quiser de me duvidar

Ligue seu TV agora

E comece a navegar

Se você vir um negrão

Ou uma negra em ação

Pode de eu discordar

E passei o dia todo

Nessa investigação

Vir um pastor afamado

Com uma bíblia na mão

Parei na rede TV

E então não pude ver

Nada que chame atenção

Então na TV gazeta

Não vi nem gente morena

Negro ali não tem imagem

Ta sempre fora da cena

Ou negro não tem talento

Parece pão sem fermento

Ou papai Noel sem rena

Sem ver um negro ancorando

Julguei até ser normal

Porém apertei de novo

E me senti ilegal

Meu coração sentiu dores

Com os apresentadores

Dum tal de globo rural

Mas não sentir-me vencido

E meu dedo indicador

Fez pressão no meu controle

O canal então mudou

E eu de novo ilegal

Pois no balanço geral

A televisão parou

Um ser humano coitado

Que o devo respeitar

Falando somente asneira

A um galo a explorar

Um ser em fim de carreira

Não perdi a estribeira

E me pus no meu lugar

E apertei novamente

E então não pude ver

Um apresentador negro

Pra poder me convencer

Mas pensei comigo assim

Vou seguir até o fim

Vou cumprir com meu dever

Cair em outro canal

E vi a programação

Fiquei bastante assustado

Quase perdi a razão

Não vi um negro atuando

E perguntei a Deus: quando

Negro vai ser cidadão?

Achei que era defeito

Da TV ou da antena

Então apertei de novo

E vi um negro na cena

Tratado como ladrão

Com uma algema na mão

No programa do Datena

Passei num falso programa

Tal de caso de família

Uma apresentadora

Que para alguns até brilha

Que faz par com a Gimenez

Deve ter o mesmo genes

Ou é da mesma família

E passei o dia todo

E a noite foi chegando

No programa do ratinho

Eu fiquei observando

Vi um branquelo sem dente

E um baixinho indecente

Umas piadas contando

Então vestir uma roupa

Que parecia um doutor

E fui numa tal TV

Conversar com o diretor

Ele nem deu atenção

Nem pegou na minha mão

Virando a cara falou

Pra conosco trabalhar

Não precisa experiência

Comprovar o endereço

Nem possuir residencia

Para passar na peneira

Nossa petição primeira

Fica na boa aparência

Eu, baiano curioso.

Perguntei pro diretor

Quero saber duma frase

Que o senhor me falou

O que é boa aparência

Responda-me com decência

Que agradeço ao doutor

Então inocentemente

O humilde diretor

Olhou firme no meu rosto

E sem restrição falou

O senhor é negro “amigo”

Pode até passar comigo

Mas depois não tem valor

Eu sair desconsolado

E fui pegar o metrô

Ao entrar uma senhora

A me ver se assustou

E cutucando a parceira

Escondeu sua carteira

E então se retirou

Só porque eu era negro

Me julgou como ladrão

Prendeu a bolsa na frente

Grudando firme Ca Mao

Eu me senti humilhado

Mas Deus tava do meu lado

E disse: calma negrão.

Ser humano é tudo igual

Independente da cor

Todos dependem do sopro

Dado pelo criador

Sem cometer exagero

Quando entra no banheiro

Igualzinho é o fedor

“ A ira de Deus se manifesta do alto do céu contra toda a impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a verdade.”

romanos 1x18.

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joãocorin
Enviado por joãocorin em 10/01/2013
Reeditado em 10/01/2013
Código do texto: T4077360
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