REDE DE DORMIR.
A minha rede de malha
Tem meu sono por testemunho
No balançar do meu sonho
A ela um nome alcunho
Quando deleito em preguiças
Na minha cama de punho.
Na rede tenho o balanço
Igual as ondas do mar
Quando flutuo em saudades
Nas águas do seu balançar
Lembrando meu dengo e xamego
Na rede de namorar.
E no alpendre armada
Por ela sou convidado
A descançar da peleja
Meu corpo velho e cançado
Me envolvendo em suas franjas
De um branco todo bordado.
Rede de tantos carinhos
Onde o acalanto descança
Num "vai e vem" bem dengoso
Numa inocente esperança
No silêncio puro e fagueiro
Faz dormir uma criança.
Um violeiro inspirado
Decanta a paisagem verde
Numa rede docil e macia
Rimando mata a sede
Ninando versos dolentes
No balanço solto da rede.
A rede guando "vai" leva desejos
A rede guando "vem" traz a saudade
E no algodão dos seus fios
Não sinto o peso da idade
Contemplo o clarão da lua
Na rede da imensidade.
Com os pés empurrando a parede
De reboco mal acabado
Sobre um chão frio de sapê
No inverno bem alagado
Balanço a rede escutando
A chuva cair no tetelhado
Há rede de todas as cores
Pra todo gosto e função
Na rede descançou fidalgos
Na mais requintada mansão
Mais na caatinga também foi armada
A rede pra Lampião.
A rede é acolhedora
Tem um aninhar envolvente
Na rede roncou jagunços
De sangue em sua mente
Mais a rede também fez sonhar
O sertanejo valente.
Redes de algodão ou de malha
Não importa o seu parecer
A alma está no balanço
Que a gente tem sem saber
Que o melhor é sonhar
Na rede enquanto viver.
Na rede dormiu meu avô
Na rede contou histórias meu pai
Na rede cantou minha mãe
Cantigas que a alma atrai
Na rede me inspiro e escrevo
Os versos que da rede sai.
Quando findar meu balanço
A rede não será esquecida
Pois acharei outra rede
De malha bem colorida
Nus armadores dos ceus
Pra deitar na rede da vida.