“MIRO NA COZINHA”

Valdemiro

Mendonça

O povo da minha casa

De férias eles viajaram,

Fiquei lá no meu rancho

Malvados me deixaram,

Por que não tenho férias

Já que me aposentaram.

Antes de irem me fizeram

Inúmera recomendação,

Vá sempre ao restaurante

Para fazer a sua refeição,

Veja se não bebe a pinga

E cuidado com o coração.

Corri lá no paiol de milho

Num cantinho disfarçado

Peguei um galão de pinga

Que ali eu tinha amoitado,

Falei, já que estou sozinho,

Eu vou é dormir mamado.

Peguei a dúzia de cerveja

E coloquei no congelador,

Já virei um copo de pinga,

Aquilo me fez até o suador

E virei uma lata de cerveja

Pra conseguir o resfriador.

A coisa até que temperou

Tomo a cerveja refrescava,

Aí eu emborcava a pinga

A temperatura aumentava,

Quando ia pegar cerveja

A minha barriga roncava.

Falei acho que isto é fome

Para mim não é problema,

Sempre fui peão de trecho,

Comigo vai dar é esquema

Já risquei o fogo na panela

E declamei o meu poema.

Tão pensando que sô besta

Eu vou economizar o farnel

Eu mesmo vou fazer a boia

Garanto que sou menestrel,

Economizo grana da pinga

E não vou ter de ir ao hotel.

Abri logo a tampa do frízer

Tinha lombo e boa porção,

Serrei, pois, era congelado,

Pus na panela de pressão,

Enchi a danada com água

Pois carne gosto é cozidão.

Aí catei outra boa panela

Esta também é de pressão,

Pus lá uma cabeça de alho

Sal e enchi a tal com feijão,

Virei mais um copo da uca

Para saborear a refeição.

Aí falei eu vou fazer é angu,

E eu já parti pra execução,

Tinha lá a água já fervendo,

Enchi de fubá o caldeirão,

Mas a coisa empelotou tudo

Em vez de angu fiz paçocão.

Falei vou fazer a sobremesa,

Gosto de bolo bem assado,

E já sovei a farinha de trigo,

Toquei no forno esquentado,

Pois, meu bolo não cresceu,

Meu lindo bolo ficou solado.

Com esta história do bolo,

Acabou dando confusão,

Uma das panelas explodiu

Espalhou todo o meu feijão,

Tomei mais uma cachaça,

Pra aguentar a desilusão.

Já tomei de uma só virada,

Três latas de cerveja pura,

Mais um copo de cajibrina

Para molhar minha secura,

Nisto toda casa pegou fogo

Iluminando a noite escura.

Tive de reconstruir o rancho

Gastei o que eu não podia,

Mas agora ta tudo novinho

Nem contei pra dona Maria,

E agora eu aprendi a lição

Nunca mais entro nesta fria.

Quando o meu povo viajar

Vou dizer como muito amor,

Não mexo mais em fogão,

Vou é cuidar de plantar flor,

Chamar as gata do recanto

Para cozinhar pro trovador.

Trovador

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 03/01/2013
Reeditado em 03/01/2013
Código do texto: T4064823
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