A CRUZ DA ESTRADA.
A cruz esquecida relata
Fincada entre o torrão
Sob o sol empoeirada
Quase bem rente ao chão
De madeira seca e rachada
No meio da vastidão.
A cruz da estrada relata
Do filho que foi estudar
Na capital dos seus sonhos
Para o sonho realizar
Mais o destino não quis
Que ele pudesse voltar.
Entre a cruz e a estrada
Tanta história estancada
Muitas idas sem as vindas
Tanta lágrima derramada
Só sobraram alguns desejos
Muito pouco quase nada.
A cruz chorosa relata
Da ida de um inocente
Que não avançou na vida
Nasceu, já partiu tão recente
Veio anjo e voltou tão anjo
Se quer se tornou vivente.
A cruz da estrada entoa
Um aboio mudo e dolente
Mostrando que ali tombou
Um vaqueiro forte e valente
Que viveu como vivi a cruz
Sob poeira e sol quente.
Quem passa ver mais não sente
O que a tal cruz faz sentir
A dor de quem cá ficou
Por quem passou a ir
A cruz é fiel retrato
Do pranto de quem viu partir
A cruz não marca alegria
Na noite que já vem vindo
A lua lhe serve de vela
E a nuvem lhe vai cubrindo
O corpo frio da noite
Com o luto que está vestindo
A cruz molhda no inverno
Com as lágrimas da natureza
Representa fria homenagem
Das vidas em correnteza
Descendo os rios da morte
Que é a nossa única certeza.
Ali sem flôr que lhe enfeite
È a marca que foi o fim
De uma jornada passada
De tantas passadas assim
Nus seus braços se quer lhe jogam
Um ramo de alegrim.