OLHA PRO CÉU, MEU AMOR! (Homenagem a Luiz Gonzaga
Olha pro céu, meu amor,
Vê como ele está lindo,
Milhões de anjos sorrindo,
Um sanfoneiro nasceu
Para mostrar a esta gente
Como se toca um baião,
Cantando com o coração
Com a voz que Deus lhe deu.
No solo pernambucano
Dia 13 de dezembro
Há cem anos, eu me lembro,
A terra toda tremeu
Pois aquele nordestino,
Cheio de vida, contente,
Tinha uma luz diferente
E o mundo reconheceu.
Filho de Seu Januário
Sanfoneiro e agricultor
De oito baixos, doutor,
Que não temia à estiagem
E de Ana de Jesus,
Agricultora e do lar
Que para o Lula criar
Tiveram muita coragem.
Muito cedo o menino
Mostrou-se interessado
E o seu pai, lisonjeado,
Incentivou-o a tocar.
Ele tocava zambumba
Com o olho na sanfona,
Um instrumento bacana
Com ele iria arrasar.
Cantava em festas de igrejas
Nas feiras e nos forrós
Perto, longe, cafundós
Não importava a distância.
O ritmo, a vibração
E o sotaque nordestino
Davam àquele menino
Destaque e elegância.
Ao fazer dezoito anos
Foi para o exército brasileiro,
No cargo de corneteiro
Vejam só a confusão.
Ele queria era um fole
Uma velha concertina,
Pra fazer a sua sina
Com as notas do coração.
Ao dar baixa no exercito
Foi pro Rio de janeiro
E para ganhar dinheiro
Ele passava o chapéu.
E cantava pelos bares,
Nos cabarés ou na rua,
Com sol ou brilho de lua,
Mesmo que fosse ao léu.
Com “Vira e Mexe” um solo
De ritmo mais que gostoso
Programa de Ary Barroso
Teve o primeiro lugar.
Na Rádio Nacional
O seu destino mudou,
E o Lulinha decolou
Para nas nuvens ficar.
Foi então que resolveu
Vestir-se como vaqueiro
E tomou como parceiro
O amigo Miguel Lima
Que pegou o Vira e Mexe
Com astúcia e com sossego,
Transformou-o num chamego
Colocando verso e rima.
Parceria com amigos,
Teixeira e Hervê Clodovil
Caetano e Gilberto Gil,
Cantaram suas canções,
Cantou as músicas de Fagner
Elba e Milton Nascimento,
Com maestria e talento
Ele animava os salões.
Gravou a Triste Partida
De Patativa do Assaré,
Inspirou o nosso Vandré
E o grande Dominguinhos
E com “Danado de Bom”
Faturou disco de ouro
Sanfona e gibão de couro,
Levava pelos caminhos.
Com o filho Gonzaguinha
Formou dupla sem igual
Que encantou na capital,
No litoral, no sertão.
Shows por todo o país,
“A Vida de Viajante”
Sucesso estonteante,
Alegrando a multidão.
Feira de Caruaru,
E Morena Moreninha,
Baião, Dança Mariquinha,
Xaxado, Lorota Boa,
A Volta da Asa Branca
Do lado que relampeia,
Dezessete légua e meia
Onde o Nordeste garoa.
O Coreto da Pracinha
Numa sala de reboco,
O Delegado no coco
Retrato de um forró,
Sanfoninha choradeira,
Fogueira de São João
Frescobol, Forronerão,
Quero ver, Qui nem Jiló.
Nas duas últimas estrofes
Canções de um sanfoneiro,
Orgulho do brasileiro,
Patrimônio do Brasil.
Que provocou emoções,
Que cantou no estrangeiro,
Foi o maior forrozeiro
Desta terra varonil.
Olha pro céu, meu amor,
Que continua brilhando,
Numa galáxia, girando,
Em ritmo mais que veloz
Está o Rei do Baião,
Que lá da eternidade
Sabe de nossa saudade,
De seu cantar... Sua voz!
***
Luiz Gonzaga do Nascimento ( Exu – PE, 13/12/1912 – Recife, 02/08/1989), cantor, compositor é uma estrela de primeira grandeza, um ser iluminado que veio ao mundo trazer o brilho de sua alegria, personificada através de seu jeito simples, de sua maneira singela de falar e cantar as coisas de sua gente.
Portanto, como homenagem ao seu centenário, o meu singelo cordel, que não conta um décimo de sua vida e é infinitamente pequeno diante de sua magnitude.
Maria do Socorro Domingos dos Santos Silva
João Pessoa, 12/12/2012.