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CANTORIA NO CÉU

 
      Luiz Gonzaga: regional, telúrico, o
      mais universal de todos os cantores
      brasileiros.

 

Hoje¹, em data especial,
há todo um clima de festa;
e, nas sextilhas que canto,
também vou cantar seresta,
mas só para o Gonzagão,
nada para quem não presta.
 

Tem cantoria no céu,
muita algazarra na Terra,
o Gonzagão centenário,
pelo que a voz dele encerra,
de norte a sul do País
e até nos céus da Inglaterra.
 

Vivo fosse o tocador,
o gênio Luiz Gonzaga
hoje faria (redondos)
cem anos da grande saga
de ter alegrado o povo,
donde faz jus sua paga.
 

Gonzaga, vindo de Exu,
foi recruta em Fortaleza;
depois, cantou dos sertões
as tradições e a beleza,
seus costumes, sua gente,
a seca e desta a tristeza.
 

Cultivou, antes de tudo,
de todos, com maestria,
sentimentos populares,
como ninguém o faria,
aos acordes da sanfona,
e com a melhor poesia.
 

Pelo povão aclamado
como o seu “Rei do Baião”,
cabra da peste (inconteste),
que animava à cheia mão,
também do xote e forró
fez-se o maior campeão.
 

Tem cantoria no céu,
mais que na Terra alegria.
Aqui, as saudades gritam!
E, embora reine ufania,
nos seus cem anos vivendo,
melhor Gonzagão riria.
 

Canções no céu troarão,
e Catulo e Patativa²,
na certa, vão dar serões,
a trovar, com voz altiva,
louvando a Luiz Gonzaga,
sempre de voz rediviva.
 

No séc’lo do sanfoneiro,
estátua lhe seja erguida,
não na praça chapa branca,
porém de todos na vida;
então no chão da memória,
onde um herói tem guarida.
 

Tem cantoria no céu:
os do Além, com alegria,
irão acender velinhas
ao Gonzagão, neste dia,
com telurismo celeste
e universal poesia.
 

Salve do povo esse artista,
que exalta o nosso vaqueiro,
as sertanejas bonitas,
o valente cangaceiro,
o jumento, nosso irmão
e o pobre homem roceiro.
 

Salve do Nordeste o vate
de fole sempre afiado,
esse andarilho constante,
de norte a sul venerado,
devoto do Padim Ciço,
do Frei Damião soldado.
 

Salve o cantor d’Asa branca,
esta linda partitura
que fez Humberto Teixeira
com tão sonora ternura.
Salve também Assum preto,
de Zé Dantas, ai, doçura!
 

Salve o mestre do xaxado,
do forró e do baião;
do Brasil um baluarte,
que o povo diz Gonzagão.
Hoje, estando centenário,
não dá vaza³ ao Lampião.
 
Fort., 06/12/2012.
 
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(¹) Na verdade, a data natalícia de Luiz
  Gonzaga do Nascimento (1912-1989)
  é aos 13 de dezembro. É o centenário
  dele, que aqui saudamos.

 
(²) Catulo e Patativa - Catulo da Paixão
  Cearense (1863-1946), autor de “Luar
  do sertão” e Antônio Gonçalves da Silva
  (1909-2002), o Patativa do Assaré; um
  maranhense e o outro cearense, ambos
  excelsos poetas populares.

 
(³) Não dar vaza - Não dar ensejo, não dar
  oportunidade, não deixar espaço para.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 06/12/2012
Reeditado em 06/12/2012
Código do texto: T4023266
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