Amigo?

Eu conheço você desde criança. Passamos por tantas coisas juntas.

Somos melhores amigos. Lembro-me quando você caiu de pé de manga que ficava no quintal no fundo da casa da sua avó e quebrou o braço, aquilo foi assustador naquela época nós tínhamos uns sete para oito anos. Lembro que eu gritei e chorei ao mesmo tempo, enquanto você enchia os olhos de lágrimas por causa da dor.

Lembro que você era o melhor protetor que eu tive na vida, sendo filha única eu ficaria desprotegida se não tivesse tido um marmanjo feito você como melhor amigo. Você se lembra da primeira festa descente em que fomos, foi na casa das irmãs Alves e eu achei que poderia ser diferente pra mim, talvez ali eu fosse dar meu primeiro beijo no gato do Rafael Lima, se não fosse você para me impedir e dar um soco no garoto porque você achou que ele estava me incomodando, naquela época você já tinha quase 1.80 de altura enquanto eu tinha os mesmos 1.60 da nossa infância.(Sempre fui exagerada você sabe né). Lembro-me que nessa época eu fiquei mais de uma semana sem falar com você por ter atrapalhado meu primeiro beijo.(Não sei com que direito você fez aquilo). Mais tudo bem, eu já te perdoei.

Quando chegou o ensino médio você se mudou para Londres, com seus pais e eu te perdi, meu único amigo de verdade. Eu me senti tão triste naquela época, me imaginar sem você naquela época era como ficar se comer chocolate ou ficar sem meu par de all star desbotado. Passamos anos sem nós ver, conversávamos por e-mail, mais depois de pouco mais de um ano perdemos completamente o contato,naquela tempo as coisas eram diferentes né. Sua avó havia morrido e nem pro enterro você pôde vir. Não sabia o que você estava fazendo da vida, que faculdade havia escolhido, nem com quem namorava, se gostava dela e se ela gostava de você. Mais de uma coisa eu sabia eu gostava de você e você me fez muita falta.

Quatro anos depois enquanto eu dirigia de volta pra casa depois de passar o dia fazendo compras, pro almoço de natal do dia seguinte. Eu vi um cara de cabelos lisos e escuros tocando a campanhia da minha casa. Eu tinha certeza de que jamais tinha visto aquele rapaz, cansada, com uma dor de cabeça irritante e uma voz debilitada por causa da gripe, eu decidi ser simpática.

-Olá, procura por alguém?

-Sim, eu me mudei desse bairro a alguns anos, mais aqui nesta casa morava a família Farias.

-Eles mudaram, compraram uma casa maior...

-Ah que pena. Você sabe para onde eles se mudaram?

- Primeiro você vai ter que me dizer para que quer saber?

-Minha melhor amiga é filha deles.

-Desculpa mais eles só tem uma filha.

-Eu sei disso.

Eu fiquei muda por alguns minutos, digerindo a conversa. Que dizer que o homem que estava na minha frente era Gabriel Dias, meu melhor amigo. Agora eu pudia ver, ele me encarava de um jeito familiar, os olhos tinham o mesmo verde dos olhos do meu Gabriel. Ele encarava meu pescoço, via o pingente que ele me deu quanto tínhamos uns dez anos.

-Camila? É você?

Eu apenas sorri, e você sorriu de volta eu vi as covinhas que ainda se formavam no seu rosto agora com barba. Quando você sorriu de volta eu percebi que o mundo tinha me devolvido um pedaço de mim que faltava. Meses depois quando você disse que iria embora porque suas férias tinham acabado me disse uma coisa que faz meu coração vibrar até hoje, nove anos depois.

Eloisa Elena Delacroix
Enviado por Eloisa Elena Delacroix em 01/12/2012
Reeditado em 18/01/2013
Código do texto: T4014755
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