BARBA CABELO E BIGODE.

Estou voltando ao passado

Lembrando com nostalgia

Do tempo da água-velva

Na barba da freguesia

Das anavalhas afiadas

Usadas com maestria.

Formava assim o hambiente

Com cadeiras de barbear

Uns três ou quatro pincéis

Uma tigelinha de molhar

Tesouras pentes e toalhas

Tão brancas de encandiar.

Dois homens entram em cena

Num dia bem rotineiro

No trac trac da tesoura

Cortando o dia inteiro

Sentado um senhor sisudo

Em pé um risonho barbeiro

Barbearias e barbeiros

De um pasado distante

Retratos vivos de outrora

Que a memória traz num instante

Das escovas pentes e frascos

Antiguidade tão fascinante.

No espelho da barbearia

Refletia vários semblantes

Dos fazendeiros da época

Politicos e viajantes

Do engaxate da esquina

Aos poetas e comerciantes.

Nas paredes lembranças em preto e branco

Do patriarca em vigília

Um banco envernizado

Ornando bem a mobilia

Com o radio abc anuciando

A inauguração de Brasília.

Mestres da barba e cabelo

De história tão bem vivida

Ofício entre as mãos

Dando rumo em sua vida

No barrufar com o talco

Acompanhando a despedida.

Na barbearia se sabia de tudo

Ali de tudo se ouvia

Das amantes as escondidas

Dos feitos que se cometia

Com a tesoura cortando

As novidades do dia.

O barbeiro sempre atento

Bem pontual e sem falha

Sabia de tudo e de todos

No chacoalhar da toalha

Guardava sutis segredos

No afiar da navalha.

O seu Raimundo feirante

Reclamava da freguesia

O alfaiate elagante

Um nono terno vestia

E o barbeiro poeta

Rimava os cordeis que fazia.

Hoje só a lembrança

Me faz voltar aqueles dias

Dos encontros e boas prosas

Enquanto o barbeiro fazia

Barba cabelo e bigode

No salão da barbearia.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 06/11/2012
Código do texto: T3971869
Classificação de conteúdo: seguro