BARBA CABELO E BIGODE.
Estou voltando ao passado
Lembrando com nostalgia
Do tempo da água-velva
Na barba da freguesia
Das anavalhas afiadas
Usadas com maestria.
Formava assim o hambiente
Com cadeiras de barbear
Uns três ou quatro pincéis
Uma tigelinha de molhar
Tesouras pentes e toalhas
Tão brancas de encandiar.
Dois homens entram em cena
Num dia bem rotineiro
No trac trac da tesoura
Cortando o dia inteiro
Sentado um senhor sisudo
Em pé um risonho barbeiro
Barbearias e barbeiros
De um pasado distante
Retratos vivos de outrora
Que a memória traz num instante
Das escovas pentes e frascos
Antiguidade tão fascinante.
No espelho da barbearia
Refletia vários semblantes
Dos fazendeiros da época
Politicos e viajantes
Do engaxate da esquina
Aos poetas e comerciantes.
Nas paredes lembranças em preto e branco
Do patriarca em vigília
Um banco envernizado
Ornando bem a mobilia
Com o radio abc anuciando
A inauguração de Brasília.
Mestres da barba e cabelo
De história tão bem vivida
Ofício entre as mãos
Dando rumo em sua vida
No barrufar com o talco
Acompanhando a despedida.
Na barbearia se sabia de tudo
Ali de tudo se ouvia
Das amantes as escondidas
Dos feitos que se cometia
Com a tesoura cortando
As novidades do dia.
O barbeiro sempre atento
Bem pontual e sem falha
Sabia de tudo e de todos
No chacoalhar da toalha
Guardava sutis segredos
No afiar da navalha.
O seu Raimundo feirante
Reclamava da freguesia
O alfaiate elagante
Um nono terno vestia
E o barbeiro poeta
Rimava os cordeis que fazia.
Hoje só a lembrança
Me faz voltar aqueles dias
Dos encontros e boas prosas
Enquanto o barbeiro fazia
Barba cabelo e bigode
No salão da barbearia.