“BURACOPÁGUA”

Valdemiro Mendonça.

Estava furando cisterna

E acabei achando ouro.

Vinha fugindo da guerra

Para evitar a carnificina,

Escondi-me lá no sertão

O raso seco da Catarina

Eu vivia numa caverna,

Vestindo gibão de couro.

Estava furando cisterna

E acabei achando ouro.

Mas que droga de vida

Era só aquela porcaria,

Quanto mais eu cavava

Mas ouro me aparecia,

Eu tava numa mazela,

Eu era preto fiquei louro.

Estava furando cisterna

E acabei achando ouro.

De água nem uma gota

Eu já morrendo de sede,

E dentro daquela gruta

Nem deu pra por a rede,

Nem pra esticar a perna

Eu vivia passando agouro.

Estava furando cisterna

E acabei achando ouro.

Finalmente o ouro se foi

Continuei furando o poço,

Neste tempo eu era boi,

Com saúde e belo moço,

Longe da vida moderna,

E o dono de um tesouro.

Estava furando cisterna

E acabei achando ouro.

Sonho de beber água

Cada dia mais distante,

E acabou de sair o ouro

Começou o diamante,

O muito me consterna

Fazendo o boi virar touro,

Estava furando cisterna

E acabei achando ouro.

Diamante saindo da mina,

Monte de grande altura,

Eu lá no raso da Catarina

Com sede cheio de agrura.

Perto nem uma taberna.

Que servisse águadouro,

Estava furando cisterna,

E acabei achando ouro.

Aí acabou o diamante

E a terra se umedeceu,

Pensei agora vem água

Mas veja o que ocorreu,

O que saiu foi um óleo

Igual piada de caserna.

Começou a sair petróleo

De dentro da tal cisterna.

Quanto mais eu cavava

Mais petróleo de lá saia,

Eu fui ficando na tristeza

Com o que me acontecia

Ficando rico mas sedento

Naquele pedaço de chão.

Fui cavando mar adentro

E fui sair lá no Japão.

Trouxe o ouro e diamantes

E eu virei japa e não minto,

Montei uma bela refinaria

Medo de guerra não sinto

Mandei rasgar meus zóios

Hoje vivo na maior riqueza

Cortei um pedaço do pinto

E casei com uma japonesa.

Furar cisterna, nunca mais.

Primeira foi como uma luva,

Dizem que a outra esposa,

Considera-se já uma viúva,

Casou-se com o Ricardão

Na cidade de Catanduva,

Furar cisterna quero não

Vou beber água de chuva.

Trovador.

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 05/11/2012
Reeditado em 05/11/2012
Código do texto: T3970076
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