Nem é oito nem oitenta... Autor: Damião Metamorfose.
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Não sou oito nem oitenta,
Não sou jovem nem senhor.
Tentei ser flor sem espinho,
Virei espinho sem flor.
E agora eu faço o quê?
Se nem sou eu nem você,
Nem ferro e nem isopor!
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Da fruta eu quis o sabor,
A vida eu tentei modesta.
As aves comeram a fruta,
E por isso o que me resta
Todas as vezes que passo
A arvore joga o bagaço
Da fruta na minha testa!
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Vivi meus dias de festa
Que Deus me presenteou.
E esqueci-me de viver
A fase melhor que estou.
Do jeito que a coisa vai
Vou ser avô sem ser pai
E esquecer quem eu sou!
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Meu silêncio extravasou...
Se aprece estou apressado.
Vou tentar seguir em frente,
Mesmo estando enviesado.
Se vai ou não eu não sei,
Só sei que sei que tentei
Olhar a frente de lado!
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Quero chegar atrasado,
Passar um natal em Meca.
Fazer cama para o cristo
Redentor tirar soneca.
Pra provar que sou feliz
Vou gritar bem alto, bis!
Eu me descobri, heureca!
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Santa levada da breca,
Eu conheço mais de cem.
Santo sem reza e fieis
Em vez dos dois, tem arem.
E eu num canto calado
Remoendo o meu pecado
Doido Pra ser um também!
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Retorno de quem não vem,
Motor turbo em Chevette.
Criança com esquecimento,
Idoso pintando o sete.
Sutiã de oriental,
Praia sem água e sem sal
Mesa de bar sem chiclete...
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Meia, inteira, soquete...
Louco que é ajuizado.
Presente que é futuro,
Futuro que é passado.
Jogo de azar que dá sorte,
A vida a beira da morte,
Patrão que escuta o criado!
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Mal criado respeitado,
Ladeira que sobe e desce.
Pólvora que não acende,
Fogo que não se aquece.
Pastor que não tem ovelha,
Olho nu sem sobrancelha,
Lembrança que sempre esquece!
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Força que não fortalece,
Amor que é indiferente.
Álibi que denuncia
E aponta o delinquente.
Sem uma vida em ação,
Manifesto multidão...
Na solidão permanente!
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Lado de traz é a frente,
O dentro fica pra fora.
A frente fica pro lado
Do lado que se ignora.
Vou levantar sem cair,
Chegar sem ter que sair,
Voltar sem ter ido embora!
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Frio e calor numa hora,
Quatro estações num dia.
Devagar eu chego ao longe
Meu tataravô dizia.
Beba água em pó mato sede,
Saio da cama pra rede
Mais que isso é covardia!
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Sujo com assepsia,
Perua que é sem chilique.
Brega não é popular,
O popular que é chique.
Coisa boa que não presta,
Calvo com franja na testa
Careca que usa aplique!
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Cego acessa e dá clique
E assiste televisão...
E diz que vê colorido
E em terceira dimensão.
Meu Deus do céu, nesta idade...
Eu faltar com a verdade?
É mentira, falto não!
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Casa solta sem oitão,
Baralho que não tem cartas.
Mesas pobres com farturas
E ricas que não são fartas.
Daqui que não é daqui,
Dalí que não é Dalí,
Semanas que não tem quartas!
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Coisas boas que descartas,
Simples muito complicado.
Macho com eme maiúsculo,
Moderno e com rebolado.
Escutei essa toada,
Não estou contando nada
Que tu não tenhas contado!
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Cão que ladra com miado,
Nuvens que tocam o chão.
Ateu que é padre e pastor
Padre e pastor que é pagão.
Sol gelado e lua quente,
Careca que usa pente
Pra pentear o franjão!
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Cigano que é ganjão
E faz trabalhos pesados.
Pobre que conta trilhões,
Rico que conta trocados.
E um poeta que não sabe
Onde comece ou acabe
A oração da toada!
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Igreja amaldiçoada,
Missa sem padre e sermão,
Política sem mentiras,
Comício e enrolação...
Doido que é ajuizado,
Normal desequilibrado,
Sela em cavalo do cão!
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Peixe que não dá pirão,
Nordeste sem vaquejadas.
Centro Oeste na divisa
Dos quinto e tabuas lascadas.
Rio de Janeiro sem morro
Lamento sem ter socorro
Enchente sem enxurradas!
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Bruxas e fadas safadas...
Coisa que mata e que cura.
Círculos em linhas retas,
Ponte aguda que não fura.
Coisa boa que não presta,
Mata que não é floresta
Vá pro cão quem desconjura!
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Mistura que não mistura,
Que não ata nem desata.
Social meio esportivo,
De short, tênis, gravata...
Casa em morro de areia,
Graciosa que é feia,
Casa feita sem sapata!
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De origem boa, pirata,
Bom que sempre foi ruim.
A parte que não me cabe,
Mas antes cabia a mim.
Uma semana sem dias,
Rima e versos sem poesias,
Não que não é não nem sim!
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Taba sem ter curumim,
Praia doce no oceano.
Circo sem pano de roda,
Pano de roda sem pano.
Calmo levado da breca,
Macho virando boneca,
Água que não entra em cano!
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Gato que não é bichano,
Pé que pisa sem ter planta.
Galo que não tem terreiro
Não tem galinha e nem canta.
Eita que fome danada,
Não como por ser enxada,
Mas dá água na garganta!
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Casa sem almoço e janta,
Patrão sem ter empregado.
Empregado sem emprego,
Ladrão sem nada roubado.
Seca com chuva seis meses
Ano sem ter doze meses,
Veloz que vive parado!
*
Fim