QUERIA QUE ESSES VERSOS FOSSEM UM CORDEL AO POVO DO SERTÃO, MAS COMO NÃO SEI ESTRUTURAR OS VERSOS, FOI ASSIM QUE SAIU DO CORAÇÃO

I

Nascido dos esquecidos,

filho dos humilhados,

junto-me ao coro dos oprimidos,

na cena dos esfarrapados.

Era árido o solo dos esquecidos.

Era árido seus destinos traçados.

Rachado do Sol a pino,

craquelês nos peitos de aço.

Quando do avançar do dia,

na hora das aves Maria,

fortes badaladas se ouviam,

trilha do coro dos descamisados.

Nesta cena dura e comprida,

são retalhos que os caracterizam,

são retalhos de sonhos que os animam.

Graciliano antecipou o resultado.

No fim da narração se viu,

"homens fortes, brutos" vindos do sertão.

Quando pisou aqui neste chão

pulsou-lhe vida. Fez daqui seu coração.

II

Nascido dos filhos dos esquecidos,

neto dos humilhados,

junto-me ao coro dos oprimidos,

na cena dos indignados.

Praças, ruas e avenidas

devem ser tomadas por todos os lados.

Derrubando os arautos da velha política

que vestiram com farrapos os descamisados.

Todos devem tomar as ruas:

o médico, o polícia e o professor;

ninguém deve achar que está garantido:

advogado, engenheiro ou supervisor.

Aos que reclamarem do barulho

saibam que seu silêncio é o causador.

A culpa não é só dos políticos,

a culpa é também do coro que não gritou.

Já dizia o grande educador

que Pernambuco nos mandou,

que o tom da fala dos excluídos

tem de ser o do grito pra ralhar com o doutor.

III

A luta dos excluídos

que deixaram pra trás seu chão

pisaram neste solo querido

para aqui semear seu pão.

Mal sabiam o que esperavam,

não era só "festa, trabalho e pão".

Aqui foram escalados

a darem suas vidas a construir essa nação.

Mas a parte que lhes sobraram

dessa grande construção

foram os guetos e becos das cidades

que não os veem como cidadãos.

A estes muitos faltam tudo:

arte, trabalho, comida e educação.

E o engraçado ainda está por vir,

tem muitos por ai que não os veem como irmãos.

O irônico disso tudo

é essa guerra entre iguais,

enquanto perdem tempo se batendo

não percebem que são deixados pra trás.

IV

É preciso parar pra pensar.

Estamos todos no mesmo lugar.

Então vamos que já é hora de nos juntar

e parar de brigar, e lutar.

É só com luta que se consegue

um espaço nesse latifúndio.

Afirmarmos nossa existência

e partilharmos dos frutos desse mundo.

No limite o que canto,

não é só canto revolucionário

é a estatuinte de novos tempos,

na qual ninguém fica calado.

Não confundam esse canto

com cantilena enfadonha,

mas temos de dar um basta

nesse sistema sem vergonha.

Vou parando esse canto.

Vou parando com meus ais,

mas convido a todo o mundo

conversarmos um pouco mais.

Wérlen M. dos Santos

18 de outubro de 2012.

Wérlen M dos Santos
Enviado por Wérlen M dos Santos em 21/10/2012
Reeditado em 22/10/2012
Código do texto: T3945224
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