AMANHECENDO.
Quando fecha os olhos a madrugada
Espreguiça em seu leito a alvorada
Se levanta e saúda animada
Clariando tudo antes ofuscado
Espalha folhas pelo chão empoeirado
Canta o galo carijó lá no terreiro
A roseira abre as pétalas solta o cheiro
Espalhando seu perfume no cerrado
Nas cozinhas os fogões acendem em brasa
As fagulhas pipocando pela casa
Com a canjica numa tigela bem rasa
Junto dela o cuscuz e o mungunzá
Com um pano coa bem e faz um chá
De cidreira canela e hortelã
Tudo isso acontece de manhã
Mesmo antes que o sol venha a raiar
As gotas de orvalhos estão caidas
Por sôbre as flôres nascidas
Entre as folhagens unidas
Saltita e canta o sabiá
Beleza maior não há
Quando amanhece o dia
Bem-te-vis voam de alegria
Na copa do jatobá
Na ladeira um carreiro lendário
Formando um fiel cenário
Tal qual um missionário
Cumprindo sua missão
Traqueja a vara de ferrão
Com argolas e maestria
E o carro gritando anucia
O amanhecer no sertão.
Juntam trouxas de roupas as lavadeiras
Ficam pé se empinam nas ladeiras
Se emprenssam entre os pés de bananeiras
E descambam no riacho pra lavar
São mulheres do torcer e do esfregar
E que cantam a luta com alegria
Em coral elas saúdam o dia
Quando o sol novo dia faz brilhar.
As nuvens em reverência
Se afastam em obediência
Pra o sol com sua opulência
Reinar no castelo da aurora
A imensidão sem demora
Faz sua obra de arte
Honrando o grande estandarte
Qua a Divindade vigora.
Em uma rua enladeirada
Uma tolda quase armada
Com a lona bem esticada
Se prepara para a feira que declina
É pexeira, espelhinho e brilhantina
Sortimento pra vender a matutada
Preços feitos numa lata enferrujada
E está montado o comércio na esquina.
Trazendo beleza a vida
Rompe a manhã florida
Deixando a terra aquecida
Enquanto a lua adormece
Pois tudo isso acontece
Na rua no campo e na mata
Belezas descem em cascata
Quando o dia amanhece.