O PADRE, O MENINO E O PATO ROUBADO.

Olha nós aqui outra vez,

Trazendo mais um cordel,

De um caso engraçado,

Dos tempos de coronel,

Diz-se que foi no nordeste,

Durante uma quermesse,

Que se deu esse tendel.

Em um certo município,

De um estado nordestino,

Nas tais de santas missões,

Que se deu tal desatino,

Se livrem da carapuça,

Mas atentem na astúcia,

Que tinha o tal menino.

Contam-se esse causo,

De um padre alemão,

Que viva todo tempo,

A cumprir sua missão,

Pois ele era convidado,

A pequenos povoados,

Pra missas e procissão.

Dizem que o nordestino,

Tem uma grande devoção,

E que são firme na crença,

Dos santos de seu torrão,

E na sua forma de crer,

Não permite alguém dizer,

Se ele está certo ou não.

Então vou aqui narrar,

O que dizem ter ocorrido,

No pequeno povoado,

Do meu nordeste querido,

Na quermesse de são João,

Com esse padre alemão,

Afine bem os ouvidos.

É comum em toda festas,

No nordeste brasileiro,

Tem grande ajuntamento,

De gente do estado inteiro,

E o povo traz uma doação,

Como um ato de devoção,

Ao seu santo padroeiro.

Assim trouxeram ao santo,

Por um tal de Armandão,

Um pato todo pintado,

Como oferta pra são João,

O bicho chegou de graça,

Ficou preso em uma caixa,

Pra ser vendido em leilão.

A festa estava animada,

Era grande a euforia,

E no meio das pessoas,

O padre se divertia,

E entrava no quentão,

Esse tal padre alemão,

Olha que o padre bebia.

Então na hora marcada,

Deram anúncio do leilão,

E o povo que ali estava,

Com muita satisfação,

Foi o tal pato leiloado,

Por um dinheiro amuado,

Sem haver consternação.

Mas o que ninguém sabia,

Que algo tinha ocorrido,

E aquele pato pintado,

Da festa se havia sumido,

E quando o leilão começou,

Alguém o pato roubou,

E noutro canto escondido.

Por ali havia um menino,

Sujeitinho desconjuntado,

O chamavam de ferrugem,

Por ter o rosto manchado,

Sem importar com mazela,

Pôs o pato numa panela,

E fez do bicho um guisado.

Seu nome era Rufino,

Mas quase ninguém sabia,

Porém por seu apelido,

Todo mundo o conhecia,

E tinha um costume feio,

Passar a mão no alheio,

E que não lhe pertencia.

Porem a mãe de ferrugem,

Descobriu a malandragem,

Que o filho tinha feito,

Na tremenda traquinagem,

Então chamou o menino,

E disse-lhe nesse domingo,

Você tem que ter coragem.

Quando chegar à igreja,

Tem que ir se confessar,

E contar o acontecido,

Pro padre lhe perdoar,

Se ele usar de clemência,

Vai lhe dar uma penitencia,

Pra sua culpa amenizar.

E assim Ferrugem fez,

No domingo bem cedinho,

Entrou na nave da igreja,

Ficou sentado quietinho,

Pôs-se então a imaginar,

Uma maneira de se safar,

Daquele episódio sozinho.

Ai viu que o padre entrou,

E foi pro confessionário,

Com uma batina branca,

E no pescoço um rosário,

Ali o povo se ajuntava,

E uma longa fila formava,

Pra confessar-se ao vigário.

Movido por um impulso,

Ferrugem se levantou,

Um tanto desconfiado,

E também na fila entrou,

Porem em sua cachola,

Já tinha encaixado a bola,

Quando sua vez chegou.

Como via os outros fazer,

Ele também se ajoelhou,

Sentindo as pernas tremer,

Quando o vigário falou,

Não se faça de arrogado,

Conte filho o seu pecado,

O que foi que aprontou.

O menino disse seu padre,

Quantos pecados não sei,

Porem eu estou sem graça,

Pois nunca me confessei,

Peço não vá se zangar,

Com o que vou lhe contar,

Foi sem querer, mas pequei.

O padre disse meu filho,

Não fique envergonhado,

Todos somos pecadores,

Nesse mundo confinados,

Conte logo de uma vez,

O que foi que você fez,

Pra está tão angustiado?

Ferrugem criou coragem,

E para o padre contou,

O que tinha aprontado,

E tudo que se passou,

Que o pato do leilão,

Ele tinha passado a mão,

Na noite que se leiloou.

Quando soube da história,

O padre se enfureceu,

E disse olha aqui menino,

Isso que tu empreendeu,

Então o padre praguejou,

E ao menino notificou,

Que publicasse o erro seu.

Disse a sua penitencia,

É se por de pé no altar,

E na hora do sermão,

Para todos declarar,

Que você foi o culpado,

De o pato ter sido furtado,

Pro santo poder perdoar.

O menino então garantiu,

Que falaria a verdade,

Mesmo que lhe obrigasse,

A sair da comunidade,

Então na data marcada,

Estando a igreja lotada,

Era enorme a ansiedade.

Ninguém sabia do caso,

Do tal moleque traquino,

Nem daquele combinado,

Entre o padre e o menino,

E lá no meio do sermão,

O tal do padre alemão,

Bem alto chamou Rufino.

E disse jovem garoto,

Se achegue aqui ao altar,

Venha contar sua história,

Que o povo vai lhe escutar,

Mas peço por caridade,

Diga somente a verdade,

Não queira se complicar.

E lá se foi o tal menino,

Em direção aquele altar,

E o padre todo satisfeito,

Pra do menino se vingar,

Pediu pra todos a atenção,

Dizendo ouçam meus irmãos,

O que esse jovem vai contar.

E acrescentou que Rufino,

É meu nobre companheiro,

Que ele merecia o perdão,

Por seus atos desordeiros,

Pedindo que acreditassem,

No que ele lhes contasse,

Pois era muito verdadeiro.

Ai ele encheu a bola,

Do garoto no momento,

Esperando que contasse,

De fato os acontecimentos,

Mas o que ele não sabia,

Era que o garoto aquele dia,

Mudou o seu pensamento.

E nesse exato momento,

A igreja então silenciou,

E o garoto abriu a boca,

Como o padre lhe intimou,

Disse vocês vão me perdoar,

Eu não queria lhes contar,

Mas o padre me obrigou.

E disse em voz bem alta,

Para toda a congregação,

Isso que vou lhes contar,

Vai sufocar-me o coração,

Não quero fazer anarquia,

Cruz credo Ave Maria,

Longe de mim tal ação.

Então perguntou de novo,

Seu padre eu posso contar,

O padre lhe respondeu,

Não nos faça mais esperar,

Para isso chamei você,

Será pra todos um prazer,

Ouvir o que tens pra falar.

Já que o senhor insiste,

Não posso ficar calado,

Mas insisto é perigoso,

O que eu tenho guardado,

Como não tem outro jeito,

Vou contar tudo direito,

Pra ficar bem explicado.

O padre se lembra bem,

Que o senhor me contou?

Pedindo que segredasse,

Tudo que o senhor falou?

Pois é então vou contar,

E quem quiser escutar,

Vai saber quem é o senhor.

Pois todas essas criancinhas,

Que aqui estão nascendo,

Com os seus olhinhos azuis,

Mas ninguém está sabendo,

Digo-lhes sem restrição,

São filhas do padre alemão,

Isso até cego está vendo.

Ao ouvir o que ele disse,

O padre quase desmaiou,

Então um grande alvoroço,

Na igreja toda se instalou,

Só se via mulher gritando,

O que você está falando,

É uma calúnia sim senhor.

No fim da história só sei,

Que o menino se safou,

E do roubo do tal pato,

Para ninguém mais contou,

E o tal de padre alemão,

Foi se embora do sertão,

E ali nunca mais voltou.

Aqui finda esse cordel,

E a história aqui contada,

Ninguém diz se é verdade,

Mas é muito comentada,

Aqui muita gente inventa,

E quando o povo comenta,

Tem alguma coisa errada.

Quero aqui me despedir,

Do meu povo nordestino,

Que tem nobreza de sobra,

E um corações cristalinos,

Terra de mulheres bonitas,

E cabras que não fazem fita,

Quer seja homem ou menino.

Sou filho de nordestino,

Amo muito esse torrão,

Na arte de escrever cordel,

Coloco minha emoção,

Sem querer me alongar,

Convido-lhes a comentar,

Esse cordel pra lá de bom.

Cosme b Araujo.

15/10/2012.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 15/10/2012
Reeditado em 15/10/2012
Código do texto: T3933946
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