SEM SAÍDA. (CORDEL)
Sem Saída.
Nas terras onde eu morava
Lá nas brenhas do sertão,
A fome era companheira
E não importava o cristão,
Fosse negro ou fosse branco
Passava por privação.
Era o bastante ser pobre
Dono de terras ou não,
Mas sete palmos bastavam
Pra morte do cidadão,
Que ali mesmo era enterrado
Pra fazer parte do chão.
E ser rico é governança
Ao pobre do desvalido,
Que diz “patrão não aguento”
E ali mesmo é punido,
Com a chibata do feitor
Que dói até no zunido.
E sai com o rabo entre as pernas
Espraguejando a pobreza,
Maldizendo a triste vida
Mas conhecendo a riqueza,
Que nunca muda de bolso
Nem põe fartura na mesa.
Tudo ali é do patrão
Que nasceu nadando em ouro,
Do pobre a renca de filhos
Todos negros nem um louro,
Restos da mesma miséria
E dos calos em seu couro.
Couro que está calejado
Só de sofrer pela vida,
Vontade de viver é o que se quer
Sem muito pago pela lida,
Porque ser pobre por aqui
É assim, sem jeito, sem saída.