Eclipse – A origem de Macunaima
Conta a lenda que existira
Além dos tempos primeiros
Um amor de tal pureza
De encantos tão verdadeiros
Que despertara o fascínio
De Deuses e feiticeiros
E reuniram-se todos
A falar da criação
De um novo mundo, mais belo
Que o vasto da imensidão
Banhado naquele amor
E pura iluminação
E aos amantes caberia
A missão de clarear
Todo caminho de trevas
Que os deuses iam traçar
Por falha ou por precisão
No mundo a se desenhar
Com a ideia finalizada
Os jovens foram chamados
Ganharam nome de astros
Sendo logo consagrados
E ao receberem seus brilhos
Foram por fim separados
Mas como peso do acaso
Não por indelicadeza
Onde nascera alegria
Abatera-se a tristeza
Posto que não se veriam
E isso era uma certeza
Assim, pela eternidade
Viveram no véu da dor
Ela, lua em noites claras
Ele, sol sempre a se pôr
Sem conseguir alcançá-la
Para viver seu amor
E a lua também buscava
Por toda vida o buscou
No fel da coroa dada
Com ele sempre sonhou
E no trançado da estrada
Nunca, jamais descansou
Certo dia um velho rio
Que tudo via e sabia
E no alto Monte Roraima
A eternidade bebia
Foi ter com os deuses, no céu
Contando o que acontecia
Pois se o mundo fora feito
Banhado à luz desse amor
Não poderiam seus astros
Viverem tamanha dor
Pediu que algo fosse feito
E depois disso voltou
Suas águas cristalinas
Do alto ele foi jorrando
Enquanto o vento soprava
A história ia se espalhando
E tudo o que tinha vida
No monte seguiu chorando
Por fim, a Mãe natureza
Um eclipse fez nascer
Dando vida à melodia
De amor e de um florescer
E entre os raios do sol
A lua pode se ver
Agora os astros amantes
Por vezes se encontravam
E na imensidão do céu
Felizes se abraçavam
Enquanto todos os seres
Da terra testemunhavam
Aquele amor foi firmado
No vasto da imensidão
Se espalhando pelo mundo
Fincando raiz no chão
Gerando flor de esperança
No solo do coração
E refletidos nas águas
Do velho rio cristalino
No dia em que se encontraram
Banhando um novo destino
Entre beijos fecundaram
Um curumim pequenino
Essa história aconteceu
Bem pra lá de Pacaraima
E o curumim foi deitado
No berço Monte Roraima
Índio em pele macuxi
Dado o nome Macunaima
O enviado dos céus
Tornou-se bravo guerreiro
Deus-herói em corpo humano
Fruto do amor verdadeiro
Entre a lua e o astro rei
Pelo eclipse primeiro
Tão temido e respeitado
Macunaima foi além
Protegendo e ensinando
Mas castigando também
Inspirando mil histórias
Nos pés do mal e do bem
Seus contos foram descendo
Do alto monte encantado
E foi o herói da floresta
Pelos índios batizado:
“O bom que trabalha à noite“
Para sempre eternizado
- Fim -