O MEU CHÃO.
O chão que se prende em meus pés
Tem o cheiro e o calor do meu esforço
É o bucho que fecunda as sementes
Com a água generosa de um poço
É meu descanço guando esfria com a noite
No silêncio mais sonoro que eu ouço.
Meu chão minha razão e certeza
Aonde piso no puxar do meu arado
De onde vem o algodão da minha coberta
Que acoberta tudo meu em um cercado
Que brota o trigo pão da minha tapera
Berço de barro de sonhar mais encantado.
Meu chão de eito bem coberto de capim
Que o gado come, e preenche o meu cochão
Onde me estendo como palha no terreiro
Onde eu planto milho luta e inspiração.
Por onde voa o caçador da mata
Matando a caça com as garrras o gavião.
É desse chão que eu vim e que eu vou
Aqui fui regado com a chuva de janeiro
Aqui cresci como rama no farpado
Me espalhei por esse rebol inteiro
Quase sou terra mistutada com argila
Que se agarra a raiz do juazeiro.
Esse chão prende os pés da minha amada
Que sobre ele planta as solas do baião
Traça caminhos com os passos do xaxado
Canta á terra e aterra a solidão
Marca o rastro que eu sigo sem descanço
Lavrando a vida sob o sol desse torrão.
Chão forrado de ortigas e espinhos
Onde a formiga faz morada em seu seio
Mesmo sofrido e catigado com a sêca
É generoso dá abrigo sem receio
Solo sofrido com o sol impiedoso
Que lhe atinge finca os raios corta ao meio.
Não é chão de riqueza nem de fama
Mais tem a mina constante da coragem
Tem o canteiro que repousa os valentes
Com a mortalha empoeirada da estiagem
Chão enxertado dos troncos das baraunas
Da roça verde dando vida a paisagem.
Chão do plantiu e das ceifas de espigas
Dourando os grãos nas fogueiras juninas
Das brasas vivas sobre as terras de cinzas
Estala a lenha em comemorações divinas
Chão das novenas benzedeiras e reizados
Chão dos nascidos por parteiras heroínas.
O chão que sustenta o caule da saudade
Enrriga a casca com a seiva da gratidão
É chão caboclo de crendices e cordeis
Chão do meu pai lavrador desse rincão
Que plantou no roçado dessa vida
E foi colher o que plantou em outro chão.