Santanna, O cantador
Eu vim falar com orgulho
Desse filho do Nordeste
Um sujeitim arretado
Famoso cabra da peste
Que viaja o tempo inteiro
Do Brasil ao estrangeiro
E é de Sertão que se veste
Foi num mês de fevereiro
Do dia de vinte e nove
Lá pelos anos sessenta
Em Juazeiro do Norte
Que a Terra da luz, ligeiro
Ouviu seu canto, o primeiro
Como um chamado pra sorte
Dizem que em seu nascimento
(E foi a mãe quem contou!)
Já deu um “Sol” afinado
E sua estrela brilhou
Pois antes mesmo do tapa
Por esperteza ou por raça
Num chorou não. Aboiou!
Quase que canta “Asa branca”!
Ou foi “Luar do sertão”?
Gritou feliz a parteira
Dona Maria Baião.
Esse aqui vai ser famoso
Falava o pai, orgulhoso
De sua própria criação
De uma família de artista
Já veio foi tatuado
Por poeta e emboladores
Estava sempre cercado
Nos cantos das lavadeiras
E também das rezadeiras
É que ele foi embalado
Como é que num vira artista
Esse bichim entoado
Pelas mãos dos cantadores
Era sempre abençoado
E entre aboios de vaqueiro
Brincava o menino, alheio
Ao destino já traçado
E como toda criança
Foi para a escola aprender
Desvendar o abecedário
Pra mode a história tecer
Se já nasceu cantador
Com o peito cheio de amor
Só lhe faltava o ABC
E quando pegou o jeito
Com essa tal caligrafia
A vida refez-se em mote
Ciência era poesia
E até mesmo a matemática
Reinventou na gramática
Pra ser luz da melodia
E como futuro é um bicho
Que não pertence a ninguém
Segue assim, silencioso
Rondando os trilhos do trem
Pegou cedo no pesado
Para garantir um trocado
Sem dever nada a ninguém
Desse momento em diante
Não queria mais parar
Era na voz do poeta
Que a vida estava a brotar
Semeando a melodia
Namorava a poesia
E quis com ela casar
E por falar em casório
Já que o assunto é amor
Foi nos braços de Laelma
Que o moço se aconchegou
Pousou que nem passarinho
Nesse jardim de carinho
E a sorte se completou
No riso de sua amada
Encontrou inspiração
Para traçar seu destino:
Ser luz de verso e canção
E agora o olhar do menino
Via o rosto feminino
Da paz e da emoção
Era um presente da vida
Num mote vestido em “Dó”
Trazendo o amor verdadeiro
Seu “Tamborete de forró”
Foi o apelido que deu
Àquela que apareceu
Pra estrada ficar melhor
A vida seguiu certeira
Nos braços da imensidão
Que nem paixão, a primeira
Guardada no coração
Colorida em tons de paz
Pela voz do bom rapaz
Nos acordes da canção
Saiu fomentando a arte
A cultura popular
Levando a riqueza ao mundo
Do dois pra lá dois pra cá
Do ouro de nossa terra
Da nossa gente, o cantar
Que nem bem-te-vi afoito
Sem ter medo de voar
Seguiu no rumo do vento
Fazendo a vida brilhar
Levando o cheiro do barro
Chapéu de couro e um punhado
De causo para contar
Nos acordes da viola
Tatuou seu coração
Cantando a felicidade
Para o povo do sertão
Levando força e coragem
Como quem está de passagem
Como reza em procissão
Virou Santanna, o menino
Santanna, O Cantador
Amado por onde passa
E até onde não passou
E foi por cantar seu mundo
Que virou luz do fecundo
E o mundo nele ancorou
- Fim -
“O sertão está dentro da gente”
(Guimarães Rosa)
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