O QUE FOI A MINHA INFÂNCIA
(Retrato da vida)
Eu sou brasileiro
Nascido na roça
De vida simplória
Grande padecer
Com apenas um ano
O meu pai eu perdi...
O quanto sofri
Com esse episódio
Tornei-me um simplório
Do que não vivi
A minha mãezinha
Uma pobre viúva
Com pouca saúde
Não deu-se ao luxo
De ao menos chorar...
Pra não provocar
Comoção coletiva
A vida sofrida
Estava a esperar
De uma sitiante
De honra e conceito
Não teve o direito
Reclamar quase nada,
Com grande pesar
Arrumou os piquai
E do velho seu pai
Tornou-se agregada
Seis filhos pequenos
Enormes problemas
O pranto era a cena
Do seu dia a dia
Os filhos famintos
Doentes e rotos
Esse era o esboço
De nossa família
Estudos pros filhos
Seu objetivo
Julgava um castigo
Não nos propiciar
Com medo da fome
Tornar-se empecilho
Um novo idílio
Veio a cogitar
Um ano de seca
Com sol inclemente
Mamãe viu a gente
Passar privação
Grande desespero
E carência afetiva
Tornou-se ativa
Ao seu coração
Um viúvo por sorte
Morando bem perto
Contava por certo
Com aquele enlace
Foi por sentimento
De algumas eras
E agora fizera
Que os dois se cassassem
Ver um homem “estranho”
Em lugar de meu pai
Não esqueço jamais
Nossa reação
Não, de rebeldia
O que agente pensava
Somente sonhávamos
Com o sítio São João
Passagens bem tristes
Trago na lembrança
Éramos seis crianças
Só a trabalhar
Tarefas pesadas
Que vida malvada
Só cabo de enxada
Nada de estudar
E assim, nós sofremos
Na pesada luta
Era aquela labuta
Quase uma crueldade
Conflito e tormento
A mamãe passou
O padrasto rejeitou
Mudar pra cidade
E assim foram seis anos
De sonhos sonhados
Que nosso padrasto
Enfim concordasse
Mudar pra cidade
Vender o seu sítio
Fazer sacrifício
Pra que a gente estudasse
Feliz ano sessenta
Sonho realizado
Já em cima do carro
Um velho caminhão
Levando as tralhas
Com toda família
Era só alegria
Em meu coração
Se fosse narrar
Essa saga completa
Acreditem, o poeta
Encheria mil páginas,
Somente um registro
Do que foi minha infância
Aquela criança
Inda vive em minha alma
Hoje, juntando os cacos
Do que foi meu passado
Sinto-me conformado
A minha alma é só festa
Pelo que me tornei
Deus me propiciou
Ser na vida quem sou,
Um sonhador, um poeta!
Poeta J. Pinheiro
Do seu Livro "Meus versos, minha vida"